Um minuto pode fazer uma grande diferença na vida da gente. Um minuto de orgasmo pode tornar insignificantes os outros mil quatrocentos e trinta e nove do seu dia. Pode parecer uma eternidade se você está do lado de fora da porta do banheiro do avião, com dor de barriga, e tem uma fila enorme à sua frente. Todos comeram a comida que, parece, estava em mau estado. Um minuto pode mudar toda a sua vida se você diz “sim” para o cara errado. Seja diante de um pedido de casamento, seja para você entrar para uma quadrilha ou para a política, o que vem a ser, na maior parte das vezes, o mesmo. Sandra saiu para o almoço no seu primeiro dia de trabalho e, na volta ao escritório, entrou no elevador. Ele mal começou a subir e parou entre dois andares. O executivo posudo, que entrou sem sequer dizer boa tarde, lhe disse: aperte aí o oitavo. Ela – que é muito sincera – simplesmente lhe disse: aperte você mesmo, não sou ascensorista. Se você tivesse me pedido, por favor, eu até poderia pensar em te atender. Os colegas a olharam com os olhos esbugalha-dos. Só depois ela soube o porquê. O cara era um chefão, conhecido pela sua antipatia. Com toda aquela pose foi o primeiro a entrar em pânico. Começou a suar frio, tremer, tossir e estava a ponto de ter um ataque de nervos. Os colegas calados estavam, calados continuaram, cada qual tentando não demonstrar ansiedade. Sandra, que é zen sempre que tem tempo, começou a tentar controlar o pânico dele. - Fica calmo, nada vai nos acontecer. Já acionamos o alarme e logo alguém vai resolver a situação. - Sim, vai – disse ele – mas o que faço, enquanto isso, com as calças sujas? O pobre se descontrolou não só emocional, mas também fisicamente. O pavor, o medo de ficar preso, o fizeram não ter domínio sobre sua vontade. Ela teve vontade de rir, mas se controlou, cantando, mentalmente, aquela música do Billy Blanco A Banca do Distinto, que diz: “Não fala com pobre, não dá mão a preto, não carrega embrulho Prá que tanta pose doutor? Prá que esse orgulho? A bruxa que é cega, esbarra na gente, a vida estanca O infarto te pega doutor, acaba essa banca” A vaidade é assim, põe o tonto no alto, retira a escada Fica por perto esperando sentada Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do tonto Afinal, todo mundo é igual, quando o tombo termina Com terra por cima e na horizontal” É isso aí, meus amigos, vamos ser gentis em qualquer situação. Afinal não custa nada e torna a vida bem mais agradável. Se Sandra perdeu o emprego? Nada disso. Acabou casando com o chefão. Acho que o que mais o encantou foi a coragem dela. Ele nunca soube que era o seu primeiro dia e que ela não tinha a mais vaga noção do cargo dele. Claro que, só depois de alguns meses, ele fez o pedido, quando já era outra pessoa. Aprendeu a dizer “por favor”, “obrigado”, “bom dia”, “boa tarde”. Agora é feliz com a esposa e os cinco filhinhos encapetados que têm.