HOMENS E GATOS

Não sei se sonhei com isto, ou se realmente li em algum lugar a tese (tosca) de que homem tem que gostar de cachorro, quem gosta de gato é mulher ou gay. Se a tese for verdadeira, então eu sou gay.

Comecei a gostar de gatos depois de adulto. Cheguei a ter oito quando morava com meu pai, número que geralmente crescia, pois nunca vacinei minhas gatas para que não entrassem no cio. Então eu precisava doar alguns. Isso quando não acontecia de um vizinho terrorista matar alguns com veneno. Nessas ocasiões, eu sofria com eles, pois depois que o veneno agia no organismo, não havia como reverter o efeito. Um personagem de John Steinbeck falava em cortar o rabo do gato envenenado, pois assim a dor seria mais forte do que o efeito do veneno. Mas duvido que isso faça efeito.

Eu amava meus gatos e foi com dor no coração que me separei deles quando fui viver com minha ex-companheira em outro Estado. Então a vida seguiu seu curso e - como já dizia Renato Russo - o pra sempre sempre acaba. E o meu relacionamento amoroso também acabou. Aqui, corro o risco de ofender alguém ou soar como ingrato, mas devo confessar: a separação doeu muito. Mas o que me deixou triste foi não poder trazer o gato da casa comigo. Inda assim, não desisti de ter gatos, não o exagero dos oito que possuía, mas ao menos um bichano para cuidar e pegar no colo.

Numa madrugada, quando voltava do trabalho, tive a oportunidade de salvar um gato da vizinhança. Encontrei-o andando em círculos, a cabeça enfiada em um pacote de ração, correndo o risco de sufocar ou ser atropelado. Segurei-o para que não me aranhasse e livrei-o do aperto. O bichano ingrato escafedeu-se, sem ao menos parar para me agradecer. Mas eu me senti feliz.

Gostar de gatos não diminui a masculinidade de ninguém. Cachorros mordem ou então abanam o rabo para o primeiro que lhes estala os dedos. Gatos são mais sinceros: se não gostam de você, simplesmente te ignoram. Mas, quando se apegam a alguém, é para sempre.