Elos vegetais

Minhas plantas crescem donairosas ante a janela. Com as palmas viradas para o sol, parecem abençoar os dias. Os dias que passam do lado de lá e os meus dias. Que felicidade eu sinto, cada manhã, em observar o crescimento dessas irmãs verdes, o desabrochar de suas folhas e flores, a cor , a forma, a espessura que distingue cada espécie da outra. O maior fascínio, porém, está em perceber o quanto esses espécimes vegetais têm de humano. É notável ser expectadora da resposta que o tratamento dispensado às plantas tem em seu viço.

Não só de água vivem as flores e as folhas. Faz-se necessário um especial cuidado de jardineira. Além da umidade e dos minerais, as plantas são como os demais seres viventes neste mundo, precisam de afeição e doçura, de palavras macias e mãos boas, cujo toque amável percorra a superfície, o contorno das folhas, a delicadeza das pétalas, chegando por osmose às raízes, fazendo com que a vida vibre e nos devolva em cores as suas dádivas.

Não quero, entretanto, fazer-me ver por essa predileção, como uma misantrópica mulher, que tendo deixado de crer na bondade humana, voltou todas as suas considerações para o universo da flora. Amo as pessoas e creio igualmente no poder que têm em responder positivamente ao bom tratamento que lhes dispensamos.

Assim como as plantas que embelezam a minha janela, os corações humanos precisam de vigorosa fonte de alimento, de hábeis e cuidadosas mãos, que lhes transmitam boas energias, que não lhes firam a frágil tessitura da carne e, principalmente, da alma.

Nem só de pão vivem os homens. Mas de gestos afáveis, de palavras encorajadoras, de olhares que bendizem, da celebração interior causada pelos sentimentos genuínos da gratidão e do perdão. E da vibração interna dessa rede complexa, que estranha e misteriosamente nos liga, plantas e homens, irmanando-os pelo compartilhamento das mesmas raízes, neste chão que se faz elo, sem começo e sem fim.