"PEQUENININHA"...

(À minha mãe LUZIA.... com Saudade...)

Pequenina e miudinha de corpo: assim era minha mãe.

Simples e amorosa.

Mas, quando relembro tudo o que essa mulher "pequenininha" fez ao longo da nossa vida familiar, vejo, na realidade, uma grande guerreira, uma heroína cujas proezas jamais serão repetidas.

Aqui, me adianto, dizendo que, quem teve família numerosa, sabe da veracidade destas mulheres, que foram a característica de uma época onde a família era o centro do mundo.

Pois bem, nossa "pequenininha" mãe, teve 11 filhos e 1 aborto espontâneo, e viveu até os 88 anos. Uma vida dedicada ao marido e aos filhos, completamente. Se teve sonhos pessoais, anulou-os todos. Mas, nunca reclamou, e fazia tudo com muito carinho e alegria.

Cada dia, a rotina se repetia: acordava os filhos, quando pequenos, dava banho, fazia o café e recomeçava as tarefas - fazer as camas, limpar a casa, cuidar do almoço, deixar o chimarrão pronto para o marido ( pois ambos tinham a sagrada hora do chimarrão, onde aproveitavam para conversar sobre cada filho e filha, e decidir juntos as resoluções domésticas e extra-familiares).

Ah! Tinha ainda a hora de costurar roupas, pregar botões; costurar... lavar....recolher do varal....

Uma vez por semana, ela ocupava o forno para fazer pão.

E não eram somente um ou dois pães por dia: às vezes, chegava a fazer oito pães numa fornada, para saciar a fome da família enorme.

No meio disso tudo, tinha tempo para cantar conosco, embalar os filhos menores no colo.... ensinar a rezar....

Jamais acordávamos ou dormíamos sem uma oração, para pedir e agradecer ao Criador muitas graças para o dia e um descanso sereno, para a noite.

Preparava o feijão e arroz de cada dia, dividindo-se entre as brigas e as reclamações dos filhos "do meio", os choramingos dos menorzinhos, ao mesmo tempo que ensinava às meninas mais velhas, as lides da casa.

Então?

"Pequenininha"!!!!!!!

O seu único drama, do qual ela reclamava muito, era a dificuldade no falar o português, linguagem do nosso país. Ela veio de uma família germânica, onde o alemão era a única língua aprendida, quando menininha. Pois bem, para não dificultar ainda mais o seu dia-a-dia, nós aprendemos a entender o que ela falava em alemão, e ela nos compreendia ao falarmos regularmente o português. Ficava com vergonha quando recebia visitas "distintas", e tinha que se expressar na língua padrão brasileira.

Mas, graças a Deus, todos compreendiam a sua dificuldade, e ajudavam o máximo quando ela se perdia nas palavras desconhecidas.

Hoje, após a sua partida para a outra vida, sinto uma certa nostalgia, uma saudade imensa desta mulher "pequenininha", que encantou-me de uma forma definitiva.

Vejo modelos semelhantes a ela nas mulheres idosas que, aos poucos, vão deixando a vida, depois de se doarem infinitamente às suas famílias numerosas, aos maridos, netos e bisnetos, com uma coragem e força tiradas de algum lugar que ainda não encontramos, mas que fazia delas verdadeiras guerreiras sem outros prêmios, a não ser o sorriso dos seus filhos.

Saudade!!!!

Saleti Hartmann

Professora e Poeta

Cândido Godói-RS

SALETI HARTMANN
Enviado por SALETI HARTMANN em 18/03/2015
Código do texto: T5174825
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