A SÍNDROME DE CHAPOLIN
Oh! E agora, quem poderá nos defender? A resposta para essa pergunta é uma interminável incógnita. Para quem passou anos com as panelas vazias em cima do fogão, mas que agora as usam para cozinhar alimentos, há uma suspeita, mas para quem utiliza panelas para fazer barulho em varandas, essa pergunta ainda incomoda. No domingo haverá desfile de panelas pelas ruas, todas de grife, sendo conduzidas pelo olho cego da manifestação.
Se o olho é cego, a boca não é muda, o grito pode se espalhar por todo o país fazendo crescer o cordão retrô, que abalou as estruturas democráticas, meses antes de março de 1964. Se a boca não é muda, os ouvidos precisam estar divididos, um ouve as ruas e o outro ouve a consciência crítica. Nós temos dois ouvidos, separados pela cabeça, justamente para um não influenciar na audição do outro. É preciso refletir o contexto e não se deixar conduzir como ovelhas.
O Brasil República nunca experimentou uma mudança profunda em sua economia. Convivemos com planos econômicos instantâneos, gatilhos, medidas provisórias e decretos. A casa nunca foi arrumada de maneira que todos pudessem ter conforto, alguns poucos, têm mais do que precisam, enquanto muitos têm de se satisfazer com um “puxadinho”. A solução está em processo e é simples, mas é impossível convencer quem tem muito ceder para quem tem pouco.
Um fato concreto e evidente é a falta de paciência de quem não aceita dividir aeroportos, estacionamentos e universidades com uma gente que, até pouco tempo, andava invisível na sociedade. O laborioso, o braçal, o tabaréu e o matuto perceberam que também podem formar seus filhos.
Outro fator que tem incomodado privilégios são as investigações nos patrimônios privados, nas contas públicas, nos convênios, nos acordos entre empreiteiras e políticos. O judiciário, mesmo com seus “juizes ostentação”, está atento e sem as amarras que o impedia de agir em governos anteriores. Isso é uma questão que precisa ser considerada, e muito, por quem anda acreditando que tudo está perdido.
O ato de desagravo ao presidente da Câmara em seu depoimento na CPI, deu a clara percepção de que o corporativismo é a arma contra o Planalto, ou seja, o demônio veste vermelho e os anjos usam gravata.
Portanto, vai haver sessão de descarrego nas ruas no próximo domingo, os artistas que se vestem de super-heróis devem comparecer para dar mais autenticidade, mais dramatização ao evento circense. Depois não chorem se a lona descer, as cortinas subirem e, no picadeiro, os palhaços surgirem fardados, usando tanques no lugar de bicicletas e fuzis de verdade no lugar de um efeito pirotécnico. Aí, meus caros, dos dias tristes e frios, ninguém poderá nos defender!
Ricardo Mezavila.