UM PALHAÇO CONCEITUOU A VIDA
Os filósofos, os geólogos, os astrofísicos, os antropólogos, os biólogos, os clínicos, os psiquiatras, os psicólogos e os arquitetos buscaram a definição da vida. Foram tecer conceitos num afã quase paranoico. O afã para descobrir quem a concebeu, sua forma, sua essência se tornou acirrada. Virou uma competição de vida e morte.
A vida se estraçalhou em embriões, células e DNA. Mas os conceitos continuaram a ser montados e desmontados, discutidos, retalhados, polemizados.
O palhaço entrou no picadeiro, cobriu o rosto de tinta colorida e sorriu escancarado por trás daquela matiz indefinida. Proclamou solenemente: “o mundo é um circo. Aqui todas as lágrimas são enxugadas. Todas as infelicidades são esquecidas. Todas as dores são sanadas. A taciturnidade do filósofo, do astrofísico, do antropólogo, do biólogo é transformada em gargalhadas. A música alegre substitui a polêmica. E as mágicas tomam lugar dos embates. A fome é trocada pela cara engraçada cheia de tinta colorida e os espectadores riem ao se esquecerem das desditas”.