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...E todo mundo quer dizer que fez parte da história. Mas só do lado bom.




Passeatas


As pessoas passeiam nas passeatas. Param para fazer uma pose para a fotografia que será postada na rede social. Pintam as caras de verde e amarelo. Passam como se os seus pés pisassem a corrupção, a mentira, o desemprego, a fome, a péssima educação, a inexistente saúde, a decepção. 

As pessoas passeiam pelas passeatas, e aparecem na televisão. Mais tarde, terão histórias para contar: "Eu estava lá!" Mas existe algo que elas não dirão: o que fariam, se estivessem do outro lado? O que elas fazem, quando ninguém está olhando?

Elas tem bom coração? Deixam de tentar subornar o guarda? Devolvem o troco que veio a mais? Recebem bolsas das quais não precisam, de forma ilegal? Jogam lixo no chão, estragam patrimônio público, ou vendem-se por um saco de cimento ou uma promessa de emprego?

As pessoas condenam a violência, enquanto a financiam através da compra de drogas, como foi denunciado numa cena do filme Tropa de Elite. Mas depois, elas vão passear nas passeatas, os dedos desenhando pombas, vestidas de branco, clamando pela paz...

As pessoas sonham com um herói - alguém que vai salvá-las do caos em que se meteram, e num passe de mágica, resolverá todos os problemas da nação. E por acreditarem em heróis, e em promessas, e em salvadores da pátria que elas nem sequer amam, caem sempre nas mesmas armadilhas. 

As pessoas aprovam aquilo que as beneficia imediata e pessoalmente. Só rangem os dentes quando o calo dói. 

Quando isso acontece, elas se esquecem. Elas protestam, elas passeiam nas passeatas. Elas trocam o presente por uma promessa de futuro que é apenas uma quimera. Elas acreditam, mesmo sabendo que é mentira, pois naquele exato momento, elas lucram. Depois... depois? Ah, existem sempre as passeatas.


Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 17/03/2015
Reeditado em 17/03/2015
Código do texto: T5173134
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