A Depressão de um homem Pálido e Azul

Certa vez peguei um bom livro na estante e sentei em minha poltrona ao lado da velha lareira, como costumava sempre fazer pouco antes de ler, e logo pus-me a pensar, estava triste então pensei muito, pensei no quanto minha vida fora difícil até aqui e o quanto me decepcionei com as pessoas. Quando eu pedi ajuda, não me ajudaram; enquanto eu me isolava todos eles se reuniam para me humilhar; e enquanto eu sangrava todos eles sorriam e pareciam zombar de minha desgraça. Foi essa minha infância amarga que fez nascer no meu peito um ódio que nenhum mortal jamais pôde experimentar neste mundo e impregnou na minha alma a maldição da frieza. Foram essas desgraças que abriram meus olhos para o mundo real, e então pude ver, mais perto do que qualquer um, o quanto as pessoas são horríveis e o quanto esse mundo é sujo e escuro. Eu lamento pelas pessoas, eu tenho nojo delas.

Em questão de um momento, desviei meus olhos do fogo amarelo que ardia a lenha para um espelho antigo que havia do outro lado do cômodo, tão distante, mas tão distante que conseguia ver apenas meu rosto e o resto do meu corpo inteiro, e somente isso. Neste momento, a loucura deve ter me tomado e viajei instantaneamente em um estranho mundo paralelo, e minha mente foi dominada pelo obscuro e pelas alucinações. Fechei os olhos para que isso acabasse logo, mas quando os abri, estava eu em um quarto, não, mais que isso, era uma floresta ou até mesmo um planeta inteiro, desconhecido, não haviam variações de cores, era tudo azul...

Lá estava eu em uma multidão de pessoas deprimentes, olhava para um lado e via minha família, do outro vi meus amigos e em um cantinho mais longe, num cantinho distante, um triste homem pálido e azul, manchado pelo sangue frio do destino, no escuro, sentado abraçado com suas próprias pernas, com medo, com ódio, com dor. Ele sangrava a todo momento e gritava por socorro, assustado eu logo me aproximei para oferecer ajuda, mas ele me ignorava, não me via ou escutava, eu simplesmente não podia tocá-lo, e com seus olhares distantes eu pude notar que eu não existia. A mente daquele doente simplesmente apagou-me da realidade, ele estava só, mesmo que rodeado de pessoas. Não desisti de ajudá-lo em momento algum, ele fugia de mim com olhares e movimentos sutis para não ser notado, e quanto mais eu me aproximava mais ele se tornava distante de mim, certa hora não aguentei e disse "Porque não procuras ajuda ou deixe-me ajudar!? Você precisa de ajuda, está doente!" mesmo assim fui ignorado, e ele começou a chorar, de seus olhos escuros escorriam gotas de sangue, eu fiquei ainda mais assustado, olhei para os lados e vi todos os outros sorrindo, alegres, antes estavam tão deprimentes... Percebi então que de nada adiantaria eu permanecer ali, aquele homem qual precisava de ajuda já estava morto, caído numa possa de sangue em uma cova, à sete palmos do solo, onde ninguém ali poderia vê-lo. Estava tudo acabado.

Como se estivesse recebendo uma visão, de repente minha mente voltou ao normal e eu estava ali na minha sala de estar mais uma vez, sentado com meu livro, de frente para a lareira. Não aguentei e pus-me a chorar, eu soluçava e me redimia por algum motivo qual somente podia sentir e não explicar. Agora era eu um homem pálido e azul. Levantei minhas mãos para enxugar as lágrimas que escorriam em meu rosto, e neste momento meu livro caiu no chão, me recuperei da choradeira e me ajoelhei para pegá-lo, então na página qual estava, 216, logo vi uma forte frase escrita "De nada adianta um cego querer ser ajudado se ele não pode ver que sua ajuda esteve sempre bem de baixo de seu nariz"

Lucas Häkkan
Enviado por Lucas Häkkan em 16/03/2015
Código do texto: T5172192
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