Fã Número Um

Olá.

Você não sabe quem eu sou, mas acompanho há alguns anos seus passos. Enxergo em você vertigens de alegria que estimulam meu próprio caminhar. Calma! Não se assuste. Não sou do tipo perseguidor, que espreita suas vítimas com olhar confuso e gestos assustadores. Na verdade, você é quem se atira na minha rotina diária sem permissão ou cerimônia. Acredito que esse abuso espontâneo foi o que mais me seduziu. Essa facilidade em interagir com aqueles que pouco atentam sua presença esganou meus receios.

Ah, ainda me lembro como se fosse hoje. Desde a primeira vez enxerguei um vínculo abstrato, paradoxal, entre nossos olhares. Contei mentalmente um intervalo enxuto de desassossego entre as bolhas de insegurança que partilhávamos sem saber. Percebi um recheio criativo muito maior do que aquele escancarado nas suas ações.

Mudei, inclusive, caminhos decorados à exaustão quando notei sua ausência por uns dias. Senti-me maltratado e desconfiado. Por que você havia mudado a trajetória sem avisar nada? Cheguei a pensar que se escondia da verdade que não conseguia suportar. Peço desculpas por ter sido tão precipitado em meus pensamentos. A mudança de rotina era apenas uma válvula para a demonstração de sua superioridade frente aos que temem adaptarem-se ao caos.

Por isso preciso da sua presença! Como conseguiria elevar minha percepção sem as lições que esbanja sem perceber? De onde você resgata a força para driblar a indiferença dos tolos em evolução retrógrada? Desculpe o abatimento verbal, mas enxergo neste rabisco a chance de dormir tranqüilo. Não queria que a minha culpa competisse labirinticamente com as falhas que você evita.

Aliás, invejo este núcleo vital que reflete das suas ações. Quem sabe não podemos debater a fonte criativa que transborda da sua fala? Isso mesmo! Já conversamos algumas vezes, mas controlei as dúvidas que latejavam em minha cabeça pelo receio ingênuo de ser mal interpretado. Inclusive registrei alguns debates calorosos com vozes distintas e vibrei com o desfecho encontrado em suas palavras simples. Confesso que gritei a vitória no silêncio do meu mundo, enquanto você simulava um sorriso corriqueiro. O improviso que sustenta o seu discurso merece aplausos.

Perdoe minha covardia ao destrinchar seus movimentos e impor um sentimento latente, que temo não ser correspondido. Mas insisto, descrever a visão do abismo e a negritude do asfalto que se estende aos seus pés, permite que a fragilidade ideológica que defendo seja fortalecida.

Ciente do exagero de confidências, acho coerente encerrar essas palavras por aqui. Mesmo que você desconheça os detalhes que compõem minha face, saiba que continuarei a contemplar sua astúcia.

Seja equilibrando bolas de tênis ou pendurando sua esperança em fartos saquinhos de balas.

Felipe Valério
Enviado por Felipe Valério em 07/06/2007
Reeditado em 07/06/2007
Código do texto: T517215
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