MENTIR PARA SI MESMO
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Mentir para si mesmo, confirma-o a canção, é sempre a pior mentira. Mentir para si mesmo lembra a tática infame e infamante do punguista que mete a mão no bolso da vítima, rouba e sai gritando: “Pega ladrão!” Mentir para si mesmo é não assumir e, pior ainda, fazer como o punguista, botando a culpa num outro, identificado ou não, ou em outros. Essa história, aliás, tem a idade do Gênesis, que descreve um mecanismo psicológico de autodefesa muito comum. Temendo e tremendo, depois de desobedecer à ordem divina, Adão esconde-se com Eva no meio das árvores do paraíso. Deus tinha posto preceito que não comessem da árvore vedada, na versão do P. Antônio Vieira. Localizado, Adão admite, perante Deus, ter provado do fruto proibido, mas culpa a mulher. Eva, por sua vez, culpa a serpente que, antes, alegara ser enganosa a ameaça feita pelo próprio Deus, pois seriam ambos, Adão e Eva, como Deus. Eis aí o primeiro jogo de empurra da história, ato que consiste em alguém atribuir uma responsabilidade a outrem que, por sua vez, a atribui a um terceiro, e assim por diante. No campo político, essa jogada também é antiga. Dessa forma um problema de administração pública pode ficar sem solução anos e anos, ou para sempre.
Quando se vive um paradigma errado, por exemplo, “caixa dois sempre existiu”, fica parecendo que isso é correto. E os interessados procuram fazer ver que quem rejeita isso é um estranho no ninho. Difícil mudar a visão nesses casos. A escravidão negra, formal, estendeu-se por muito tempo, no Brasil, como se isso fosse normal. Hoje em dia, a corrupção está institucionalizada. Não faz muito tempo, o juiz que mandara apreender um carro de luxo, dentre outros bens, de um bilionário, foi flagrado dirigindo um deles. Coisas de uma terra sem lei, ou melhor, digo, ou pior, de uma terra onde o paradigma vigente é o da impunidade dos poderosos, autoridades e políticos com o antidemocrático foro privilegiado.