Mateus calado
Mateus era o nosso alvo. Bullying na sala de aula, no pátio do recreio, na porta da escola. Entrada e saída. Ameaça verbal, psicológica, tirania, assédio... bullying, cyberbullying, neobullying... Nomeie-os e nós o fazíamos. Não o deixávamos falar nem participar de nada que fizéssemos ou deixássemos de fazer.
Ninguém nunca bateu nele, mas a hipótese o assombrava e a sensação de poder sobre ele, que se calava diante de tudo atrás de óculos que deixavam os olhos enormes, ainda mais assombrados, era deliciosa.
Um dia, cheguei do banheiro e ele tinha sido alvo de uma bala perdida que entrou pela janela. Ele havia levado o caderno à mesa da professora bem na hora e dali foi para o chão. Morto. Entrei. A classe estava toda em choque, mas ninguém chorava. Apenas o contemplávamos imerso naquela poça de sangue crescente. Rosto para baixo. Como sempre, calado.