Manifestando Discurso

Queridos, adorei todas as manifestações de carinho. Achei tudo autêntico. E tão ordeiro. O que vocês precisam entender é que eu tomei posse. É meu, percebem? Tomo posse todos os dias, ao despertar. E entre um dia e outro faço acordos. Para que? Para ficar aqui e vocês aí. Acho impossível que não consigam entender isso. Queridos, vocês estão na malhas de algo que nem todos os dicionários, apostilas e enciclopédias do mundo conseguiria lhes fornecer o mais leve rudimento de que se trata. Trata-se da nossa relação. Eu tomo posse, enriqueço (eu e todos os meus amiguinhos) conspiro para que vocês continuem nas malhas (de algo que não compreendem, mas se debatem, pobrezinhos....) e cada dia que passa o que vocês ganham? Ah, adoro perguntar e responder ao mesmo tempo. Ganham úlceras, síndromes do pânico, depressões, medo, angústias, fobias, desesperanças, cansaço, (conto com vossos cansaço e medo, vejam, não é pessoal, é, como dizer, apenas a melhor e talvez única maneira de continuarem onde estão e eu, bem, eu estou aqui).

Queridos, tudo isso faz parte de um aprendizado espiritual muito grande. Muito grande mesmo. Para que vocês prestem atenção. Quando uma pessoa fala a respeito de si mesma, vocês não querem ouvir, ficam idealizando alhos e bugalhos sendo que a essência está a dois centímetros de vossos focinhos.

Gente, é de pasmar o quanto vocês são tolos, tenho vontade de gargalhar. Se ao menos um de vocês, apenas um, levantasse a mão pedindo explicação do por que o voto ser obrigatório, qual motivo das penalidades e em nome de que os anúncios continuam a ser veiculados enunciando as mesmas ameaças e vocês....o que? Nada. Pintam o rosto, batem panelas, uivam pra lua. Se pelo menos meio de vocês espirrasse baixinho inquirindo o por que da imunidade parlamentar, meio, não precisava nem ser inteiro, juro a vocês, vocês todos, eu disse todos, os que me odeiam de coração e os que me amam por dinheiro, que eu em pensaria em mudar de profissão. Sabem que ontem a noite sonhei em lançar uma lei para judiar ainda mais daqueles que não justificam o voto? Ah, bons tempos em que se podia açoitar as pessoas.

Então vocês acham que esse movimento cívico (detesto essa palavra) vai me subtrair um tostão do que já amealhei? Vocês acham que perco o sono com receio de uma aposentadoria minguada? Eu e meus amiguinhos enriquecemos (adoro essa palavra) e vamos continuar nessa Autobahn

enluarada por séculos e séculos amém por sermos imunes. Tamo nem aí não.

Vocês não tem a mesma sorte, não tem amiguinhos, nem imunidade, um ou outro salta pro lado de cá, às vezes jogamos um ou outro como boi de piranha, mas o teatro continua idêntico com um poético adendo - sabem cada vez menos ao passo que nós estamos sempre distâncias à frente. Ou eu deveria dizer "instâncias"? Por que? Por que tudo é nosso. Sim, pois quando se toma posse..... Sabem o que acontece quando isso acontece do jeito que estou contando? Entra-se num sonho em que milhões e milhões trabalham pra gente, não só com suor (com suor também) mas com orgulhosos brados de ordem, tipo "A Petrobras é Nossa". Isso é divertidissimo. Ante ontem sonhei em passar uma lei obrigando-os a declamarem nos próximos mutirões patrióticos: A Petrobras é Vossa (isso são vocês dizendo pra mim).

Queridos, tudo faz parte de um plano espiritual para engrandece-los. Quanto mais vocês sofrem, mais eu me engrandeço. Sei que parece confuso, mas pelo menos hoje, acreditem em mim, senti meu ser borbulhar de paixão pela ingenuidade das vossas inclinações, tão românticas, as cores da bandeira, a bandeira que eu neguei, os Coros e Refrões, famílias de mãos dadas, dormirei numa bolsa de tessitura plangente não conseguindo sufocar meu feroz anseio cada dia mais perto dos super poderes do nosso bestial vizinho, embora me debatendo num contraponto de inveja crua, nua, dilacerante pelo vosso heroísmo arrebatador, surpreendente, fúlgido, sem saber no fundo quem é que vai esfregar na cara de quem - na minha ou na de vocês - só o destino saberá, o que já dizia a avó da minha avó: quem é burro peça a Deus que o mate e o diabo que o carregue.