SER OU NÃO SER PATRIOTA

SER OU NÃO SER PATRIOTA?

BETO MACHADO - 13.03.15

O mormaço na economia brasileira continua pairando sobre as cabeças dos dirigentes políticos e administrativos como as nuvens que coroam os picos dos maciços. Elas mudam de lugar mas não dissipam.

Um punhado de bons debates, logo após as eleições gerais de 2014, se misturou a embates violentos nas ruas, “in door”, nas redes sociais, onde contendores procuraram entender as decisões tomadas pela chefe do executivo federal, como a indicação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Devo confessar a minha incapacidade, na época, de compreender aquela escolha. O perfil do escolhido se enquadrava perfeitamente ao perfil pretendido pela oposição e não às propostas de campanha da presidenta reeleita.

Excluindo-se os editoriais da mídia mais popular do país houve uma grita generalizada ante o anuncio do primeiro pacote de ajuste fiscal, cujo conteúdo, como no passado, o ônus recai sobre os ombros dos trabalhadores.

Mas agora, assentada a poeira dos embates, a minha ficha começa cair. A escuridão produzida pela dúvida e pelo desconhecimento começa a clarear com a intermitência de um pisca-pisca de ornamentação natalina.

O domingo das ricas panelas coincidiu com o da frigideira da Dilma. O grupo de manifestantes cometeu um grave erro de avaliação: panela cheia não faz barulho. Quando muito, produz um chiado, anunciando aumento de pressão. Mas na frigideira da Presidenta, com mais da metade da gordura do PT fervilhando, contém dois ministros, sobre o fogo brando. Cátia Abreu da agricultura e Joaquim Levy da fazenda... A primeira defesa oficial do ajuste fiscal, idealizado e executado pelo ministro Joaquim Levy foi exatamente no mesmo horário e dia do panelaço; Dia Internacional da Mulher de 2015. Enfim, a Dilma saiu da sua auto clausura. Dois meses de silêncio. Nem o partido, nem a presidência. Só o ministro defendendo o ajuste.

Hoje, se alguém perguntar ao Joaquim Levy se ele encontra-se em estado de fritura na frigideira do Governo a resposta será, desenganadamente, não. Mas creio que a sua consciência permanecerá a postos, respondendo sim. Tais gestos me remetem a uma questão: -- o que leva homens comprovadamente competentes, de reputação ilibada, aceitarem ou rejeitarem uma indicação-convite para comandar a política econômica brasileira? À minha compreensão cabe apenas uma explicação: ser ou não ser um patriota. E, igualmente, só um espírito patriota pode prender a um cargo, por importante que seja o título, um cidadão como o atual ministro da fazenda, que rema, quase solitariamente, contra a correnteza do caudaloso rio dos interesses difusos de mais de setenta por cento da população do país, ainda não convencida das suas explicações que vão no sentido de recuperar a credibilidade do país perante os investidores internacionais. Só que o povo brasileiro está acostumado a receber promessas diretamente ligadas ao seu próprio umbigo. E nem sempre os tecnólogos tem essa habilidade, própria dos políticos. Dizer tão somente o que o povo quer ouvir, não o que deve ser feito.

Temo que seja estratégia partidária e ou governamental esse recolhimento do PT e da presidenta. Se for, é um grande erro que pode ser mortal para suas pretensões futuras de poder.

Roberto Candido Machado
Enviado por Roberto Candido Machado em 15/03/2015
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