QUEM MEXEU O MEU QUEIJO?
                                                                              
“Quem mexeu o meu queijo” é uma interessante metáfora criada por Spencer Jhonson, um médico e escritor americano que ficou famoso escrevendo livros de autoajuda, tais como a série Gerente Minuto.  É um livro interessante e atual, que já vendeu mais de 11 milhões de cópias no mundo todo e continua sendo usado até hoje por executivos, professores e formadores de opinião, por que trabalha com um padrão bastante revelador da conduta humana e nos ajuda a entender melhor a complexa estrutura do cérebro do homem moderno.
A metáfora utiliza o comportamento de homens e ratos na luta pela sobrevivência. Ratos e homens são postos em dois labirintos e têm seus comportamentos estudados durante algum tempo. No labirinto onde estão os ratos são escondidos pedaços de queijo e o trabalho deles é encontrá-los. No labirinto dos homens são escondidas notas de dez dólares e o trabalho deles é o mesmo: encontrar as notas Isso é feito várias vezes e durante muitos dias a experiência é realizada.
Depois de algum tempo, tanto os pedaços de queijo quanto o dinheiro são retirados. Os ratos voltam ao labirinto algumas vezes e não encontrando nada, param de ficar procurando. Abandonam o labirinto e partem para outros lugares em busca de comida. Os homens levam muito mais tempo para desistirem de ficar procurando as notas que não existem mais e até hoje, dizem os pesquisadores, de vez em quando alguém se mete no labirinto na esperança de encontrar algum dinheiro.
A experiência mostra que os homens encontram as notas mais depressa que os ratos descobrem o queijo, mas são mais renitentes para abandonar um comportamento que não está lhe trazendo mais bons resultados. Mostra também que os homens são mais complicados que os animais quando  há interesses em jogo.  Os ratos, ao descobrirem que não havia mais queijo no labirinto simplesmente abandonaram o local e foram em busca de novos territórios. Ninguém brigou nem perguntou quem havia tirado o queijo de lá. Os homens, ao contrário, começaram a desconfiar uns dos outros e a se perguntar se alguém não andava passando por lá antes e pegando o dinheiro.
Isso mostra também a dificuldade que o cérebro humano tem de abandonar um comportamento depois que ele é instalado. Mesmo depois que ele não dá mais resultado a maioria das pessoas continua praticando esse comportamento na esperança que ele ainda lhe traga algum proveito. Explica muitas outras coisas também. Explica, por exemplo, o masoquismo de algumas pessoas, que vivem apanhando e sofrendo com um parceiro, mas não o larga, na esperança que ele um dia mude; explica porque pessoas insatisfeitas com um emprego, uma relação, um hábito que o prejudica, mas não mudam, porque ainda esperam encontrar nele alguma fonte de prazer.
Pensando bem, isso talvez explique também o que está acontecendo na nossa vida politica justamente agora.  Ela sempre foi um labirinto de ratos com esmerado faro para descobrir onde está o queijo. O outro labirinto é onde estão os eleitores. Os ratos sempre sabem onde está o queijo e só deixam o labirinto quando não tem mais pernas para percorrê-lo ou quando o filão de queijo já está esgotado. Os eleitores, ao invés, mesmo vendo que eles nunca atenderam seus interesses continuam votando sempre nos mesmos. Por isso, há mais de meio século cerca de cinquenta famílias dominam a cena política no Brasil. Que outra explicação teríamos para a presenca, há tanto tempo no Congresso,  dos Collor, dos Calheiros, Malluf, Sarney, Alves e Barbalhos,  só para falar nos “top of mind” da colônia de ratazanas que passeiam pelos labirintos das nossas casas legislativas? Nós, os eleitores, estamos brigando e desconfiando uns dos outros, nos perguntando quem terá mexido no nosso queijo. Eles estão se armando para derrubar o Procurador da República, que ameaçou mexer no queijo deles.
Escrevo este texto vendo na TV os preparativos para as manifestações que estarão ocorrendo hoje. Fico me perguntando se essa turma que está passando em baixo da minha janela, balançando bandeiras e batendo panelas, já descobriu que no labirinto que ela está percorrendo nunca houve nada para ela porque os ratos sempre passam por ali antes e comem o queijo. E se nas próximas eleições vai continuar insistindo nesse mesmo comportamento. E depois ficar batendo panelas, balançando bandeiras e gritando “quem foi que mexeu no meu queijo”?