ALIENÍGENA - Republicação

                           Texto escrito e publicado em 2009



 
     Alienígena neste, como em todos os mundos, à semelhança daquele "estrangeiro aqui e em toda parte" de Fernando Pessoa. A questão é que, a personagem a dizer "alienígena neste, como em todos os mundos", sabe-se, efetivamente, uma ninguém, enquanto Fernando Pessoa ao se afirmar "não sou nada" praticava, por um lado, o famoso fingimento pessoano (porque, em verdade, o Poeta sabia-se grande, sabia-se muito, daí sua necessidade de repartir-se por tantos); por outro lado, dizia-se a verdade na afirmação "não sou nada", exatamente porque "não pode haver tantos".
        Não é bem o caso da alienígena em questão. Aliás, não há questão alguma a tratar. A alienígena sem questão qualquer a propor é apenas isto: alienígena-ninguém. Para ela não há heterônimos possíveis sequer necessários que, só necessários seriam se houvesse uma necessidade de expressão tão múltipla e tão multifacetada quanto a precisada por Fernando Pessoa com seus recursos de linguagem amplos, na igual medida da sua loucura lúcida quanto a própria lucidez.
        Para a alienígena-ninguém, se ousasse levar-se a si própria até as últimas consequências, só lhe restaria o polo da loucura, que também se pode múltipla, ampla, multifacetada. A presente alienigena o sabe muito bem, que ainda lhe resta alguma lucidez para sabê-lo. Alguma lucidez.
                                    

Ainda na manhã de 18 de novembro de 2009, quarta-feira.