A PIADA DO DIA

“Existe quem jamais tenha colocado uma gota de álcool na boca ?” Ah, sim , acredito que possa existir , ou ter existido . Basta decidir fazer , ou não . Mas para que cheguemos nesse patamar - a decisão - , é fundamental que tenhamos , primeiro , oportunidades de vivência e aconselhamento familiares. Não entenderam? Ora , todo mundo lembra das inocentes comemorações em família, onde um primo mais velho , um tio mais novo, resolveu mostrar que era homem , bebeu todas e não fez cara feia , ainda que tenha vomitado a noite toda , estragando a toalha da mesa de jantar . Todo mundo lembra de como o seu próprio coração descompassou por estar “de frente pro crime” – uma garrafa de birita estrangeira - e sozinho na copa da cozinha , sem ninguém vigiando , porque fora incumbido de ir buscar mais diversão para os convidados, tentando administrar a sensação de que um incêndio homérico acontecia na garganta por causa do gole , furtivo e desesperado , na ânsia da experimentação . Consequentemente , também lembram do esforço para impedir o embaralhar das pernas e o vacilo no segurar da garrafa , já ensaiando uma breve explicação para o hálito de maçarico e o turvar dos olhos , tão logo voltassem para a sala ; e no dia seguinte , não havia um discurso de púlpito e sim , a reprimenda dos heróis . “Mas isso tudo tinha graça ?” Até que tinha . Por que todos nós somos humanos , essencialmente , imperfeitos , curiosos , e passamos boa parte da vida aprendendo como São Tomé . Para milhares , grande sorte porque ainda tínhamos a família , talvez inocente porém , vigilante.

Mas ocorreu que restou-nos a bandida sociedade . Ela , que nunca foi simpática às inocentes comemorações domésticas ; globalizar é a lei do seu dia , em todos os dias , meses , anos e séculos . Que não admira tentativas de experimentação; só acolhe a resultados , imediatos e incontestáveis . Que preferiu mostrar-se calada diante de quaisquer aconselhamentos prévios ; sempre é muito mais divertido o subir e o descer do malho , as risadas no meio da praça pública , o arremessar dos tomates podres . Daí , vivermos o descaminho e não em preto e branco : co – lo – ri – dís – si - mo !

Ligo a televisão e ainda tenho que ouvir as palavras de uma trabalhadora brasileira , caixa de supermercado , respondendo a sagaz pergunta do repórter sobre a palavra contravenção : “ah , moço , nós não podemos dizer nada , temos é que vender“ . Eis aqui , a nossa sociedade bandida existindo para maquinar , pintando à essa palavra cores de importância maior e contrárias às que já conquistaram o doce verbo AMAR .

Agora a pouco , pela internet , me perguntaram se as fotos da bebedeira dos rapazes universitários têm graça. Lanço mão do meu direito divino a contra perguntar : e elas têm ? Sei, imagino que todo mundo tenha emudecido . Porque a resposta dói e o som que dela emana não se parece , em nada , com aquele que as nossas bocas fazem ao dizerem, corriqueiramente , o “sim” para tudo, com tudo , acima e apesar de tudo . Se já foi constatado que não há meios de esconder as falhas do caráter humano , torna-se mais pesada a obrigação na descoberta de um meio que impeça a destruição da raça humana . E eu não estou falando de meros botões . Jamais falaria de meros botões !

( "Melhor morrer de vodca do que de tédio" ; que não fique a lição )

Josí Viana
Enviado por Josí Viana em 13/03/2015
Reeditado em 05/05/2015
Código do texto: T5168709
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