ASSOMBRAÇÕES E OUTROS MITOS

Quando meninos, entre 8 a 12 anos, época muito difícil para nós, onde minha mãe estava acometida de bronquite asmática e ficava muito tempo hospitalizada, me lembro de que ela, como forma de nos manter unidos e temerosos, inventava ou repetia coisas que tinha ouvido também no passado, que era mais ou menos assim: filhos, nunca cheguem em casa depois das 8 horas porque naquela jaqueira – que tinha próxima de nossa casa – aparece de vez em quando uma mula sem cabeça, o Saci-pererê e a cabra-cega. Para evitar o fatídico encontro com os mitos nós nunca chegávamos em casa depois das 8 horas. Quando chovia muito acompanhado de temporais, relâmpagos etc, nós nos ajoelhávamos ao redor da cama dela e ali só saíamos depois que o tempo acalmasse. Enquanto aguardávamos a calmaria rezávamos um, dois ou mais terços religiosos, um verdadeiro rosário. Crescemos com tais medos, que não recomendo hoje para ninguém, porém, era a maneira que ela conhecia ou tinha para nos manter em casa e cedo. Mas, sem dúvida, muita coisa havia mesmo. Não sei precisar o que, porém acredito que tudo aquilo se fazia necessário. Uma casa cheia de filhos. Nós éramos em 5, porém sempre tinha meninos de outras famílias conosco.

Mesmo sabendo, hoje, que eram mitos, foi uma forma inteligente que tinha minha mãe de manter-nos juntos nos momentos de aparente dificuldade. Um raio, uma chuva, uma queda, qualquer deles – no santo olhar de minha mãe – seria penoso demais para nós, que já não tínhamos uma vida muito fácil.