A Essência do Argumento

Insight, revelantismo, teofania, são conceitos que definem o dom capaz de capturar, de imediato e previamente, a síntese fugaz de uma obra já completa no âmbito da imaginação, qualquer seja ela e em quaisquer setores da habilidade humana.

Neste contexto e na vasta planície da literatura (às vezes em planaltos!), o escritor se converte em um receptáculo de ideias não fortuitas (dadas as suas - do escritor – predisposições conscientes) que lhe assomam como ventos favoráveis. Digo predisposições quando considero, no escritor, a vontade deliberada de manter-se desperto enquanto no miolo de seu cotidiano; no epicentro do entorno que o envolve.

Assim, aquele que anda a observar formigueiros não perceberá o movimento das nuvens que, porventura, possam anunciar-lhe o mau tempo. Em contrapartida, o admirador incorrigível do movimento das nuvens arriscar-se-á a tombar sobre formigueiros. O olhar flexível será aquele que posicionar-se no limiar entre formigueiros e nuvens, de modo que a abrangência desse sentido o faça senhor absoluto na compreensão das coisas.

A este fenômeno descrito na abertura destas minhas reflexões, chamo “A Essência do Argumento”. O poeta, em suas funções de “profecia”, verá na gotícula do orvalho, pendente e solitária na manhã fria, um universo inteiro com suas intrínsecas galáxias e prováveis infinitudes.

A Essência do Argumento são obras prontas, repito, porém centradas no campo etéreo - mas não menos manipulável - e sempre disponíveis à sua concretização.