O Arco-íris

Foi para os lados de nordeste que o arco-íris apareceu. Se o avistei, é porque ando a olhar o céu ainda mais do que para onde costumo caminhar. Disto sabem muito bem os tropeções e tombos por que já sofri na vida. Mas não reclamo. Então já não sofreu, no solo, aquele que por um amor distante negligenciara as armadilhas da paixão reservadas aos poetas e incautos? Mas, voltemos ao arco-íris.

Ele estava lá, o Arco-da-aliança, embora não sinalizasse o fim de qualquer Dilúvio. Efeito óptico ou não, eu o vi. E quem mais?

O pipoqueiro, à porta da escola, saturava os saquinhos coloridos com pipocas ainda quentes, salgadas ou doces. A hora era a da saída dos pequenos, suas maçãs do rosto rubras de tanta brincadeira que precede a idade dos estudos. Mães, pais e avós, ou por quem destinado a esse serviço estivesse, a criançada ela levada (no sentido do verbo!) de volta à casa. Insisto na pergunta: “E quem mais?” Então o Arco-celeste estava ali no céu, com sete cores curvilíneas, pintado por um pincel mágico para que ninguém o visse? Mas que ingratidão dos homens é essa, meu Deus?

Além de meus famintos olhos direcionados àquele fenômeno meteorológico, nenhum outro mais, num raio de vinte metros, ousou abandonar o cenário baixo, cotidiano, na tentativa de redescobrir aquela combinação de água e luz do sol, que jamais serão idênticas as suas nuances multicolores.

E como os ventos soprassem de leste a oeste, as nuvens se despediram do espetáculo e levaram consigo as gotículas que, por milhões de anos, ensaiaram ao lado do sol para uma apresentação sem plateia...