ESCREVER. PAIXÃO. GRATIDÃO.

Nasci praticamente dentro de imensa biblioteca. Casa de meus pais. Nasci em casa, outra época. Quando se diz que o homem é produto do meio, tal afirmação pode não ser integralmente verdadeira, mas é concorrente, procedente. Somos nosso DNA, a gigantesca descoberta da recenticidade científica, ou seja, o que foram nossos ancestrais em conjunto com a ambiência circundante. É pacífico, incorporamos a força do sangue, precipuamente.

Meu pai, um lutador que venceu, seu pai, meu avô chegado da Itália, com o peso do renascentismo, futura e básica cultura do ocidente, colocou os filhos todos estudando com os educadores Salesianos, originários de Turim, na Itália. Nenhum deixou de absorver educação, meu pai destacando-se em sua profissão notavelmente, a mesma minha.

Adolescente olhava seus livros profissionais, folheava e pensava “nunca vou entender nada disso”; estava enganado. Não era leitor ainda,meramente pontual, doze anos, mas um garoto absolutamente entregue aos folguedos daqueles tempos em que a juventude era realmente juventude, gozando dos sabores hoje desconhecidos, a vida lúdica. Se não mergulhava no mar de livros, estava perto de um excelente nadador que parava multidões em seus discursos de improviso, e era conhecido como um raro intelectual, com o título unânime de Príncipe dos Advogados Fluminenses, o bâttonier da corporação por algumas investiduras, culminando por representá-la no Tribunal Maior. Bastava ouvi-lo. Fonte de saber.

Eu “dava para o gasto”, passava no colégio sem muito esforço.

Rapaz, farrista, mas leitor, mergulhei ainda novo no gosto que invadiu minha escolha natural, filosofia, os clássicos, uma paixão, também na academia. Passei a escrever, para mim uma espécie de necessidade, incontrolável, quase involuntário, e coloquei a poesia livre a conquistar o que já tinha sob conquista; as namoradas. Meu pai foi se embora eu com vinte e seis anos, ele tinha quarenta e um quando nasci, gerações distantes, diálogo difícil, somente censurava ser eu um farrista.

Ele sério, taciturno, introspectivo. Nunca o vi sem um livro na mão. Confesso que as vezes leio o que faço e me pergunto, será que fui eu que escrevi isso(?). Por quê? Qual a razão dessa indagação? Penso que foi ele. Me ronda sua força , esse é um fato entre outros, muitos, enigmáticos para mim.

Certa vez estava em Aruba com uma turma de amigos e fomos todos jantar e uma senhora presente me pediu "me dá um pito desses". Eu não mais fumava, mas tirava um "pito" de cigarrilhas vez ou outra, sem tragar. E a senhora, que me disseram receber uma entidade, alertou cada um que estava na mesa de possíveis traições empresariais, etc e virou para mim e disse "sabe aquele escritório "gando" na sua casa, cheio de livros", e descreveu integralmente o escritório.

Pois é, atras de você naquela cadeira que você senta está um senhor mandando você escrever mais. E descreveu a figura de meu pai milimetricamente, careca, óculos que usava, armação escura, grossa, como se vestia, roupa que vestia,terno de seu gosto, cor de gravata, tudo impressionantemente igual. As vezes sinto que ele me ronda....e tenho fatos extraordinários sobre isso para contar, mas requer espaço. Vai explicar...

Na minha atividade pública escrevi muito, pois ela se estrutura em escrever e ler. E escrevi também muito em edições técnicas, ainda faço eventualmente, mas parece que vivi a vida toda para escrever um livro a que o destino me levou, “A INTELIGÊNCIA DE CRISTO”, com vários capítulos constando do Recanto das Letras, obra em que comento as partes do Sermão da Montanha e que a crônica especializada em dois jornais referiu ser livro para abrir em qualquer página que levará à reflexão, existirá algo que levará a esse indicativo. Esse foi meu objetivo.

Em janeiro dei à publicidade “ENSAIOS DA ALMA” que pode ser comprado em livraria que já indiquei, outras por pedido, ou na editora por email, livro que motiva a presente crônica. São oitenta crônicas onde a alma, nosso interior, varre os sentimentos na planície da vida e nas profundezas do coração. Este trabalho, como “A Inteligência de Cristo” (este com mil volumes de tiragem, restando uns cem) sem nenhuma pretensão de renda ou reconhecimentos, felizmente não preciso de ambos, se destina às doações para assistência aos necessitados, como já feito, principalmente "Médicos Sem Fronteiras".

Ontem, antes de me deitar abro o computador e vejo a RESENHA, e escrevo com maiúsculo RESENHA, pelo conteúdo, não por me distinguir, de Bernard Gontier, “FRASEADOS”, esse o título. Começo a ler uma escala musical descrita de harmonias sobre jazz e, surpreso, vejo meu nome seguido de apreciações nascidas da generosidade do amigo, agudo escritor que descerra almas também, fenômenos sociais e físicos com apuro singular.

Venho neste espaço agradecer as palavras que me honraram subidamente, de quem também escrevendo, em seus livros, mostra a incontida força da inclinação natural que nessa caminhada corpórea nos alenta e sublima. Obrigado Bernard.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 12/03/2015
Reeditado em 12/03/2015
Código do texto: T5167222
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