Sejamos Santos
O processo de santificação de uma pessoa, de condução exclusiva do Vaticano, é, antes de tudo, burocrático. Pouco tem a ver com a santificação propriamente dita. A beatificação, etapa que antecede a santificação, segundo as normas vigentes, deve esperar por cinco anos após a morte de um Papa, por exemplo, que se queira santificar. O novo Papa, recentemente escolhido, resolveu abreviar esse processo, eliminando o citado período de cinco anos e antecipando dessa forma a eventual santificação do cidadão Karol Woytila. Vamos vendo, portanto, que qualquer pessoa, em tese, poderia se tornar um santo. Bastaria que tivesse uma notável carreira no meio eclesiástico, a partir da sua formação de padre, a sagração como bispo e depois a nomeação como cardeal. Com possibilidade de ascensão ao nível mais alto da hierarquia do Vaticano. Tal como uma pessoa que se forma na USP ou na Sorbonne, cumpre as diferentes etapas do processo político e se torna presidente de um país ou de uma grande empresa multinacional. Muitos nem precisam estudar tanto. O que importa é que qualquer um pode ser presidente de uma nação. Como também pode ser santo. A questão é mais de burocracia do que de merecimento. Intelectual ou espiritual. O que está definitivamente bem longe daquilo que aprendíamos quando criancinhas, isto é, que os santos podiam fazer milagres. Porque se fosse assim, qualquer um de nós poderíamos fazê-los.
Rio, 13/05/2005