GRAVIDEZ (I)
 
           Foram três anos de tratamento e tentativas.

      Perfeccionista que é, cumpria à risca todas as orientações do médico. Mulher de fibra, determinada —  como a maioria.

      
Estressada, vivia sua iminente gravidez vinte e quatro horas por dia.
 
      Debalde.
 
     Seus olhos marejavam,  ao passar por mães com seus bebês nos carrinhos.
 
     Enfim, chegou o dia em que a fibra e a esperança daquela mulher foram vencidas pela realidade. Estava fadada a não gerar filhos.
 
     Convenceu-se.
 
     Paradoxalmente, sentiu-se aliviada.                Entretanto, perplexa, pois abandonava seu maior sonho.
 
     Parece que tirara um fardo pesado de seus ombros.
 
    Comunicou à família sua decisão, no que foi apoiada, pois todos acompanhavam seu sofrimento.
 
    Voltou-se para o trabalho, outra razão de viver, pois, além de gostar do que fazia, era do tipo “Caxias”.
 
    O tempo passou, e confirmou o dito popular de que “após a tempestade, vem a bonança”: foi promovida à chefe de serviço, dada sua competência e dedicação.
 
    — Alô, Su, vamos almoçar juntas hoje, minha irmã? Tenho uma ótima notícia pra te dar!
 
    — Está grávida?!

    — 
Ah... Su, nem fala nisso, oxalá...
 
    — Ué, “ótima notícia”...
 
    — Não, Su, não estou grávida, não... Fui promovida! Vamos comemorar?
 
    — Meu Deus, que ótima notícia! Onde vai ser a comemoração? Tem que ser bem especial!
 
    — Claro! Vamos naquele restaurante especializado em comida baiana, ali na Cinelândia. É caro, mas hoje é tudo por minha conta. Isto é, por conta da promoção!
 
    — Ôba! Te encontro às 12,30h.
 
Pediram vatapá, prato favorito das duas.
 
    — Ai Su, acho que não vou comer, não. Estou enjoada...
 
    — Comeu algo diferente no trabalho?
 
    — Nem no trabalho, nem em casa. Comi o de sempre...
 
    — ARLETE, VOCÊ ESTÁ GRÁVIDA!
 
    — Tá louca, Su! Faz mais de dois anos que parei o tratamento!
 
    A gravidez foi cercada dos mais exagerados cuidados...

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