Pichorra e meia

O leitor mais antigo, ou a leitora cuja idade não persigo, já há de ter visto uma, ou de fazer idéia do que seja. Mas duas, louvado-seja! Uma e meia, aliás, em nome da verdade, que ao cabo se faz, e a todos nós compraz.

E vamos primeiro a essa meia-pichorra, que já teve seus dias de glória, seu lugar à mesa farta e vai ver até que chamada de 'pitcher', ao invés do nome abrasileirado, servindo família abastada, do leite à limonada, pela sadia criançada todo dia cobiçada, até que, ao que se vê, um acidente, de repente e agora, ei-la quebrada, servindo a mais nada, ao fundo do quintal jogada, abandonada. E o que mais lhe dói, como sói, pela própria empregada - da qual mais fora afeiçoada.

Mas o resgate veio um dia, pelas mãos de arqueologia da Vicentina tia que, com a ajuda de uma boa vara e paciência rara, 'pescou' aquela preciosidade através da cerca de tela que dividia os quintais e e nô-la apresentou com todas as sua credenciais. Ligou-a ainda aos anos de sua tenra juventude, na pequenina Jaguaruna, quando juntamente com a irmã Isabel trabalhara para Dona Margaret, a mulher do Major inglês, gerente da mineração, pageando-lhe os filhos Thomas e Marcus, aqueles 'nortibóias'! Lá sim, havia cada pichorra bonita. Mas essa, pescada por tia Vicentina, não ficava atrás, a não ser pela ausência da asa, que se falta lhe faz, ao menos a prende em casa.

Já a segunda pichorra, uma pichorrinha da porra, essa foi um mimoseio da menina Diva à colega sua, e mana minha, Belinha. E seu paradeiro - vá buscar no nosso terreiro: escondida que nem um tesouro, bem debaixo da arvinha de cachinhos-de-ouro.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 10/03/2015
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