Acervo doméstico (excertos e desacertos)
Pilão rachado - diferente dos pilões verticais, feito vasos, esse era mais horizontal, e tinha uma rachadura lateral que fazia a socagem menos segura. A mão, composta de dois polos assimétricos era pesada para uma criança, quanto mais, disposta a uma lambança. Acho que era gomidiana herança de meu avô materno, Gomides. Ou quem sabe, veio de França? No entanto, muita paçoca que foi pra nossa pança de lá saiu e pra onde foi, quem é que viu? Se me não engano, quando nos mudamos de Bru para Pit ficou pra trás esse pilão, fazendo companhia às recalcitrantes, torradeira de café e a passadeira, onde pisara tanto pé.
Muinho preto - era um moinho para grãos de café, mas aguentou, rangendo e gemendo, verdade é, muito milho até. Era de fixação numa superfície vertical bem sólida, feito um mourão de cerca ou um esteio de sarilho de cisterna, tinha a marca 'Mimoso' gravada em sua base. Na casa de vovó tinham também um igualinho, com a diferença de que, fora do alcance de crianças, mantinha-se novinho;
Petrechos do barbear de papai - consistiam numa navalha 'Solingen', com caixinha bem justinha - e fora de cogitação ali botar a mão; esmeril, para a afiação da navalha, marca Union Carbide, cabinho de madeira, verde, e corpo metalizado formatado à semelhança de
uma adaga, rombudo, sem corte ter e só pra bom corte fornecer; pincelzinho e baciinha esmaltada, pintadinha e arroxeada,
utilizados na confeção da espuma para amaciar barba até de um Montezuma, o pincel era curto e grosso mas a baciinha não era nenhum poço; pau-de-pita, esse feito em casa, do miolo da piteira, duma maciez nota dez e quando já bem ressecado, era aplainado a faca e em sua superfície se espalhava, feito manteiga, uma pasta
preta, um tanto abrasiva, que servia também à amolação do fio da lâmina da navalha, ou outra lâmina que o valha, e que se falha, talha.