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Durante muito tempo, a escola preparava o aluno para o tecnicismo da vida e o professor respondia a esse método recopilando discursos e apresentando fórmulas prontas e acabadas.

É perceptível uma nova arquitetura mental e o professor, formador de opinião, passou a mediar conhecimento, fazendo do aluno um construtor e não simplesmente um agente passivo diante do conhecimento. Com a autonomia, o discente passa a compreender o papel de cidadão e a agir de forma mais consciente (a palavra tem sentido amplo e não fica somente em sua estrutura primeira) na sociedade.

Na pedagogia, percebe-se o comprometimento do professor em apresentar a realidade conjuminada com o conteúdo, evitando o distanciamento desse aluno e as implicações futuras. Repensar o pensamento contribui para uma pedagogia mais autônoma e libertária, como sonhava Freire.

A educação, muitas vezes, produz discursos ecoados pelo aparelho maior (Estado) e apresenta o currículo ( inscrição de poder, segundo Guacyra Lopez) como algo imposto. O que pode ou não ser ensinado, o que pode ou não ser aplicado; forma de menoscabar o histórico do aluno e responder à escola – mais um aparelho ideológico do estado. Apresenta-se uma discussão breve e fixa com atividades distantes da realidade do aluno, transformando o aprendizado numa enxurrada de ideias vazias e sem prática cotidiana.

O professor, sujeito que deveria ser libertário, aprisionado outrora, repete discursos e vigia e pune, erguendo no aluno o próprio panóptico e suas amarras diante da aprendizagem. Freire buscou a educação libertária – utopia? Todavia, vive-se um faz-de-conta, um era uma vez, no qual, realiza-se o preparado, o ultrapassado, mas com um novo nome. O novo é apenas estereótipo da novidade – Barthes – e, assim, finge-se no conteúdo, mas o poder curricular diz o que se deve apresentar e aprender. A pedagogia apresenta teorias, mas cai no vácuo das idéias incongruentes com a realidade, mostrando a incapacidade de uma práxis.

Em um mundo onde há sociedades em sociedade, o discente precisa aprender a con-viver e conviver com novas formas de relacionamento. Saber aprender e aprender a saber, construído e desconstruindo conceitos; para que, dessa maneira, o fixo deixe de ser um lugar e seja o entrelugar, no qual, cada indivíduo entenda os extremos e jamais se fixe. Compreender o holístico é penetrar em um mundo novo, pensamento novo e deixar de lado o fragmentário e cartesiano, apresentando, assim, o todo e o percurso; sem entender partes e enumerá-las para encontrar prováveis erros.

Kapra apresentou o ser humano como um universo ligado por universos, seu Ponto de Mutação apresenta o holístico como solução para uma unidade doentia e positivista. Morim provoca o pensamento com idéias que desconstroem o modelo anterior. É preciso ensinar para o complexo, para o polissêmico, para as possíveis impossibilidades e as incertezas; deve-se esquecer a resposta pronta e erguer as dúvidas. Triste aquele que apresenta fórmulas e conceitos; é preciso esfacelar o pensamento mecânico e construir a reflexão, mas sem as emoções sociais que a sociedade exige (não confundamos "afetivismo" com afetividade). Para se ter um novo pensamento, é preciso repensar o que já foi pensado.

Mário Paternostro