ACONTECEU NO BANHEIRO
Chegando ao hospital público da cidade, já passavam das nove horas da manhã. Meu nariz ainda sangrava um pouco. Todos da recepção olhavam para mim, como se eu fosse um monstro. Não era para menos, estava com o nariz quebrado, dopada de analgésicos devido às dores. Procuro alguém que pudesse ajudar-me, e falo com a moça da recepção. Ela me manda esperar, então eu respondo:
- Com meu nariz quebrado, ainda tenho que esperar? Reclamei.
- Infelizmente terás que esperar. Hospital público é assim mesmo. - Respondeu como se estivesse com pena de mim.
Fui sentar-me em uma cadeira, pedindo a Deus que aparecesse alguém de coração bom para acelerar minha situação. Quando de repente aproxima-se uma senhora e diz:
- Minha filha, foi o nariz? Já passei por isso. Na minha época, não existia a Lei Maria da Penha, para dar um jeito nele e nunca mais o nojento encostaria um dedo em mim. Mas no seu caso será resolvido rapidinho. Falou batendo a mão em meu ombro.
- A senhora está enganada, eu... – Quando iria falar o que realmente havia me acontecido, fui interrompida por alguém chamando o meu nome:
- Débora, Débora... Número 45, aproxime-se.
Levantei-me rapidamente e fui em direção àquela voz, deixando a senhora sem a verdade sobre meu acidente.
Um homem forte, alto e com a farda da segurança, juntamente com um policial levou-me para uma sala afastada. Quando entrei encontrei um senhor gordinho e uma mulher baixa e de óculos. Os dois olharam atentamente para mim e começaram a debater o assunto, como se eu não estivesse ali:
- Dr. Francisco caso de prisão, no mínimo quatro anos, mas uma indenização. Falou a mulher, cujo crachá dizia ser Elizabeth.
- Exatamente! Antes de fazer a cirurgia, precisamos consultar um perito para averiguar os fatos. Uma garota tão bonita não merece uma agressão desse tipo. Disse enfático e determinado.
Quando entendi sobre o que eles estavam falando, não pude deixar de corrigir o mal entendido:
- Desculpe atrapalhar, mas eu sou grandinha o suficiente para contar o que realmente aconteceu comigo. Não falem como se eu não estivesse aqui. – Argumentei já aborrecida. – Para começo de história, não fui espancada e muito menos agredida, como vocês estão pensando.
Os dois olharam para mim, sem nenhuma surpresa no olhar. E a mulher respondeu:
- Calma minha querida, sou assistente social do hospital e esse é o Dr. Francisco. Estamos aqui para ajudá-la. E também acostumados a ouvir esse tipo de argumento. Portanto, não defenda o seu companheiro, ele não merece, pois quando resolveu fazer isso em você, não pensou nas consequências. – O jeito como me olhavam dava medo. Não me deixei por vencida.
- E volto a repetir, ninguém me espancou ou coisa parecida. Apenas cai com a cara no vaso sanitário durante o banho. Os dois entreolharam-se e começaram a rir na minha frente.
- Olha jovem, nós entendemos o seu desespero. Ele deve ter te ameaçado, né? Mas não se preocupe que o oficial de polícia está aguardando o seu depoimento. Não precisa ter medo.
- Mas eu não estou desesperada, apenas falo a verdade. Moro sozinha e nem namorado eu tenho. Não existem motivos para mentir. Eu caí no banheiro e bati com o nariz no vaso. - Falei novamente sem sucesso.
Mandaram-me ir para a enfermaria bater a raios-X do nariz. Enquanto isso observei que eles falavam com o rapaz alto e forte que eu havia visto anteriormente. E eles não tiravam os olhos de mim, rindo como se eu fosse alguma palhaça. Droga, maldita hora em que fui cair com a cara na privada e quebrar esse bendito nariz. Agora eu entendia os olhares curiosos. Aposto que todos achavam que eu realmente teria sido espancada. E o pior é que quando alguém se aproximava de mim, e começava a afirmar, antes mesmo que terminasse eu praticamente gritava:
- A culpada foi a PRIVADAAAAAAAAAAA!!! Estourei de um jeito louco. Mas, sempre saiam rindo de mim.
O homem alto e forte chegou e disse-me que precisava de um depoimento meu sobre o ocorrido. Já de saco cheio de tanta confusão respondi rispidamente.
- Pode perguntar o que quiser.
- Quem você está defendendo garota? Quem fez isso passará um bom tempo na cadeia se colaborares. - Foi até gentil comigo.
Do mesmo modo falei:
- Então senhor policial, se realmente conseguir prender o acusado, será um milagre e caso único na área policial. Já que o senhor insiste... Ele está exatamente no mesmo lugar em que eu deixei ao sair de casa com sangue escorrendo pelo meu rosto. Está no meu banheiro, grudado ao chão do lado esquerdo. O seu nome Privada e mais conhecido como vaso.
Depois do que falei, precisava ver a cara dele de espanto e raiva. E por incrível que pareça, foi o único que não riu de mim. Pelo menos não me perturbaram mais.
Débora Oriente