A ponte
E quando eu sentir o fim chegando, quero olhar para trás e vir com orgulho tudo que fiz, tantas vezes pude escolher o que fazer, e tantas fiz o que devia, sem sentir o tremor nas pernas de quem está na beira do abismo.
Ouço relatos de homens de coragem, leio coisas criadas por pessoas de inteligência rara, vejo obras de arte que parecem ter sido guiadas por mãos divinas, uns tem uma vida devotada a moral e a integridade, outros por um ato ou fala ficaram imortais, exemplos de conduta a ser seguido. Vi homens virarem santos e homens como demônios amaldiçoados até hoje, moças de beleza esculpida em mármore e histórias de amor que terminaram em tragédia.
Queria saber se também serei lembrado depois do dia de finados, se irão brindar meu nome nos bares como eu brindo, se contarão histórias sobre mim ou se algo que fiz ecoará pelos tempos, erguerão taças ao cara que não quis passar despercebido, que não ficou alheio as dores do mundo sem ser cobrado no espelho. O cara que dizia devemos ter honra sem esperar glórias por isso, aquele cara que foi ferramenta pros outros sorrirem juntos, e sempre ia embora sozinho com passos lentos espalhando seu sorriso triste pela rua.
Não sei quando partirei, e assombra o fato de a maioria das coisas e obras grandiosas só serem conhecidas depois que se morre, é como ficar faltando uma parte do corpo, não poder explanar o que sente no momento em que cria ou faz algo. Eu tento mostrar minha admiração a quem eu vejo fazendo qualquer coisa que julgo boa, grande ou pequena, é minha forma de incentivá-lo a continuar assim, que o que fez ou disse foi legal e importante pra mim. Mesmo que ele queira ficar no anonimato eu mostro que vi suas ações.
Como era o olhar de Cristo pras mesmas coisas que me perturbam hoje? Pergunto ao grande pai que tudo fez, se as coisas pequenas e despercebidas que faço também vão me tornar merecedor de sua companhia, conto que pretendo com elas construir uma ponte pras almas de todos que sentem angústia de algo, e pra todos que contribuíram lapidando minha vida até aqui, e se meus dias terminarem sem que eu faça nada espetacular, essa ponte será o que deixarei ,por ela homens sem sobre nome poderão entender que mesmo no anonimato das pequenas atitudes, coisas grandiosas se elevam. Caminhem por ela e encontrarão um homem que tinha dor de cabeça quando não podia socorrer quem dele precisou, vera um homem que amou e falou do seu amor, um cara com olhos de esperança em ver um mundo melhor. Quando cruzar eu estarei lá, então entenderá que as vezes bem perto existe um alguém que também está construindo algo, muros, faróis, redomas, naves, cercas, sonhos..........construindo uma história.
Toda vez que vejo daqui as duas margens, tenho que escolher para onde ir, entre deixar a comodidade da vida que conheço ou ir pra desafiadora vida que não tem destino, vou sem a certeza de alguém me esperar, com esperança de que usem essa ponte pra passar por momentos difíceis e coisas fúteis da terra, e talvez e só talvez, essa ponte vire minha lápide e meu nome fique escrito só com a primeira data.