O PROBLEMA DO GRITO "FORA DILMA" E A NECESSIDADE DO GRITO "REFORMA POLÍTICA JÁ "

Não sou filiado ao PT. Sei que o PT é um partido que - em alguns casos que tomaram evidência - acabou se corrompendo como os demais grandes partidos, apesar de sua linda história iniciada no frescor do poderoso movimento operário de 1978-79. Não votei em Dilma no primeiro turno da última eleição e só votei no segundo, para ajudar a proteger nosso país do programa neoliberal do PSDB e das elites corporativas que usam a mídia e abertamente controlam o Congresso, ludibriando o povo, logicamente. No entanto, não posso deixar de considerar que só no governo petista figuras do alto escalão da política foram - num fato inédito em nossa história republicana - para a cadeia por casos de corrupção: a justiça nunca trabalhou tanto neste sentido como nos anos de Lula e Dilma no poder.

Agora, parte da população brasileira afina o coro de "Fora Dilma" para o dia 15 de março. Me deixa estupefato a ingenuidade (quando não maldade) de propagar a ideia de que sem Dilma no poder o Brasil mudará. Ora, se houvesse hoje um partido a governar este país, ele provavelmente se chamaria PMDB, pois ele detém maioria em todas as instâncias do Legislativo e do Executivo, com a caneta de estratégicos Ministérios. Estou insatisfeito com o atual governo, como a maioria dos brasileiros. Eu espero mais do que tenho visto. Só que este "mais" vai depender muito do PMDB (com PSDB e toda a direita e quem eles representam) e seus planos para o país. E, mais do que isso, essa melhoria só poderá vir, na verdade, de uma grande Reforma Política. Um forte grito por Reforma Política, este que o grande Capital está conseguindo com habilidade calar. É lógico que os verdadeiros donos do poder, ou seja, as grandes corporações (apoiadas irrestritamente pela grande mídia formadora de opinião: grandes empresas de comunicação patrocinadas por outras grandes empresas) não iriam permitir o ressoar de tal grito. Já o grito que eles querem, o de "Fora Dilma", eu julgo uma insanidade. Ou melhor, uma grande armação (na verdade, nada insana) que consiste em desviar a atenção do povo brasileiro para a urgência de modificarmos a lei que permite esta aberração moral que é o financiamento de campanhas eleitorais feito por empresas privadas. O povo não percebe que uma Reforma Política radical seria uma possível chance de se mudar algo, pois a mídia não quer que ele perceba, e, aliás, quase não toca no tema, e quando toca, o faz com desdém. O Brasil não muda com Dilma fora do "poder". Os urubus só querem mais espaço para comer a carniça sem o incômodo da presença de um partido de centro-esquerda participando do poder. Sem Dilma na presidência, mudaria um ou outro nome da alta política, mas as regras do atual jogo sujo continuam as mesmas. Tenho muita pena do nosso povo.