A BOA VONTADE.

“Paz na Terra aos homens de boa vontade (Lc 12,2 )”.

Se não há boa vontade nada mais haverá. É imperativo para que haja paz, existir boa vontade, ela se dá de uns para outros, ato isolado, pessoal, não reflete boa vontade. A paz ou a guerra encerra dualidade no convívio, reciprocidade.

A falta de paz reinante mostra a ausência de reconhecimento do ser humano como pessoa. Os dias que atravessamos no mundo e em nossa nação trazem a clareza da falta de boa vontade. Trago página kantiana didática e educacional para dela extrairmos uma lógica comezinha que descreve uma realidade incontestável. Por quê? Por estar na vontade o direcionamento de toda a vida humana.

A exteriorização da vontade, o ato volitivo manifestado no mundo exterior, muda o entorno, projeta o que visamos, o que queremos. Por isso a norma de direito que regula a sociedade circunscreve condutas emanadas da vontade. Qual vontade? A que merece aplauso ou elogios e a que traz danos. É o que se chama aspecto psicológico-normativo em direito.

“De todas as coisas que podemos conceber neste mundo ou mesmo, de uma maneira geral, fora dele, não há nenhuma que possa ser considerada como boa sem restrição, salvo uma boa vontade. O entendimento, o espírito, o juízo e os outros talentos do espírito, seja qual for o nome que lhes dermos, a coragem, a decisão, a perseverança nos propósitos, como qualidades do temperamento, são, indubitávelmente, sob muitos aspectos, coisas boas e desejáveis; contudo, também podem chegar a ser extrordinariamente más e daninhas se a vontade que há-de usar destes bens naturais, e cuja constituição se chama por isso caráter, não é uma boa vontade. O mesmo se pode dizer dos dons da fortuna. O poder, a riqueza, a consideração, a própria saúde e tudo o que constitui o bem-estar e contentamento com a própria sorte, numa palavra, tudo o que se denomina felicidade, geram uma confiança que muitas vezes se torna arrogância, se não existir uma boa vontade que modere a influência que a felicidade pode exercer sobre a sensibilidade e que corrija o princípio da nossa atividade, tornando-o útil ao bem geral; acrescentemos que num espectador imparcial e dotado de razão, testemunha da felicidade ininterrupta de uma pessoa que não ostente o menor traço de uma vontade pura e boa, nunca encontrará nesse espetáculo uma satisfação verdadeira, de tal modo a boa vontade parece ser a condição indispensável sem a qual não somos dignos de ser felizes.

(...) A boa vontade não é boa pelo que produz e realiza, nem por facilitar o alcance de um fim que nos proponhamos, mas apenas pelo querer mesmo; isto quer dizer que ela é boa em si e que, considerada em si mesma, deve ser tida em preço infinitamente mais elevado que tudo quanto possa realizar-se por seu intermédio em proveito de alguma inclinação, ou mesmo, se se quiser, do conjunto de todas as inclinações."

Emmanuel Kant, in 'Fundamentação da Metafísica dos Costumes'

A vontade comanda o mundo,na boa vontade e na má vontade tão presente.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 07/03/2015
Reeditado em 07/03/2015
Código do texto: T5161112
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