O Sol que nasce, o Sol que morre
O bom gosto literário se torna também memória onde se grava, como se fosse numa pedra, a lapidar sentença de José Lins do Rego: “O Sol que nasce no Santa Rosa morre no Santa Rosa”, colocada na visão do coronel diante da imensidão das suas terras, da enorme planície verdeada por canas de açúcar, admiradas como as plantações de trigo ou de girassóis... Nisso, essas plantações se assemelham ao sol: nascem, e, se provisionadas no celeiro, logo renascem de outras sementes. É o Sol, ora nascente, ora poente, mas sempre o Sol, analogante de muitas analogias. Nessa metáfora pilarense, a literatura logo mira a beleza; a economia, o latifúndio...
Há coisas que morrem, mas não renascem; nisso, incluam-se alguns bons costumes. Lembro-me bem que, na década de 1960, nos trotes dos calouros, nas reuniões estudantis, nos encontros de entidades, dentre problemas nacionais, o latifúndio era discutido pela juventude. Lia-se nas faixas das passeatas: “Abaixo o latifúndio” e também o “petróleo é nosso”... Esses gritos de guerra ecoaram no campo; foi quando, num dos marços da nossa história, mulheres dos usineiros protestaram em defesa do latifúndio como direito de propriedade; donas de casa da burguesia mineira, fortes e coradas, foram às ruas batendo colher em panela de alumínio e, em 31 de março, sentiram-se vitoriosas. Logo, constatar que o sol nasce e se põe numa mesma fazenda era subversão...
Hoje, o latifúndio improdutivo e outros problemas sociais se eclipsaram; alguns políticos e seus procedimentos de corrupção roubaram-lhes a cena; nossas necessidades nacionais são colocadas em segundo plano nos noticiários, nos fatos, nas pessoas, e até nas bocas das crianças no pátio da escola. E, uma contaminação tendenciosa e volumosa atinge também políticos honestos, porém eles existem e sobrevivem... No momento, são apenas vítimas de generalização motivada pela discriminação, pela confusão criada por corruptos acusando corrompidos. Desejamos que, um dia, o povo brasileiro se conscientize e ganhe mais discernimento, mais saber de comparação e de escolha; saiba votar e discernir que ser político não é uma profissão, tampouco merecedora de aposentadoria, mas uma função à qual o cidadão se apresenta como voluntário para servir à comunidade. Que nos ilumine o Sol, do Oiapoque ao Chuí; e também sertanejos e sulistas pedintes d’ água sejam os mesmos que desejam o Sol, porque na eficácia dos contrários, sem água e sol não há vida...