SHAKESPEARE. HÁBITO, NATUREZA.

Desde o século XVIII paira nos meios acadêmicos a interrogação sobre a obra de Shakespeare, de não ter sido ele seu exclusivo autor, seria Francis Bacon ou um grupo de intelectuais.

Faltariam condições temporais para escrever tão extensa obra e conhecimento educacional de alto estágio para fluência na língua inglesa com apuro e ser versado em política, direito, línguas estrangeiras e no latim, como em Hamlet.

Tenho crônica sobre o que depreendi e por razões temporais e de deslocamento seria impossível ser de sua pessoa toda a obra. Fora ausência de preparação educacional compatível.Importa, contudo, o conteúdo originário.

Em seus famosos bardos está: “o hábito é segunda natureza”, que cito muito.

O hábito engole a natureza ou é a própria natureza? Que somos senão práticas diárias de ordem em feituras? Uma necessidade natural.

Nesse ritual alguma coisa nova diverge da linearidade em viver, e esse caminho divergente cria asas e voa para planos distantes do que é a mesmice. O mesmo caminho, o mesmo trabalho, a mesma trama para o lazer nos dias próprios, as alegrias nas grandes festas, natal, carnaval, as mesmas amizades, os mesmos laços, enfim os mesmos hábitos. Isso mudou para outro espaço.

Seria em vão todos estarem debruçados em suas máquinas, em febril troca de emoções e vivências ao ponto de esquecerem a necessidade do “vis a vis”, da conversa pessoal? É surgimento de mundo novo?

É uma novidade da qual todos participam, como tudo na vida, com radicalidade ou não. Incidirá o curso da maneira de ser de cada um, da disciplina natural pessoal avaliando interesse e necessidades.

Essa divergência nova que cria hiatos, que intercala frequência com alternativas coloridas de outros matizes, rompe com a cansativa ordenação do habitual. Como? Mesmo na habitualidade afigura-se a não habitualidade. Exemplificamos com essa febre endêmica, de visibilidade em qualquer lugar, que contamina e grassa, o computador.

Qual a razão de tantos com a descoberta do computador passarem a se comunicar em várias línguas? As janelas da alma são abertas e querem ficar escancaradas.Gritavam aprisionadas, vê-se, nota-se, é flagrante.Uma psicoterapia coletiva. Quantos já ajudaram quantos por esse novo meio? Ninguém pode contestar essa realidade da qual participo.

Sim, essa abertura para o que antes achava-se cerrado acontece em várias línguas pela diversidade coloquial em registrar pensamentos manifestados. Isso é o que importa. É um novo mundo que se conhece, e empolga a quem desconhecia a amplitude de poder dizer o que vai na alma. Antes só era possível para a proximidade das amizades, em família ou em livros, hoje está na antena. Não importa a língua, não existem filtros editoriais.

Salta aos olhos a falta de intimidade com o ato de escrever, mas ele passou a estar presente como novidade que tira as cadeias da alma, atravessa barreiras antes presentes. Venceu intimidações a comunicação, alguns fazem questão de enfrentamento dos rudimentos da escrita oficial, não usando pontuação, acentuação e seguimentos gramaticais, mas se lançam os pensamentos. O mais importante é a aproximação das pessoas, mesmo que necessitem colocar para fora o que não é desejável. Terapia pura. E todos fazem, sejam boas ou não as explicitações do “ego”, o “id” continua nos porões, pode até mesmo saltar inconscientemente como é de sua característica onírica.

Assim a humanidade fica mais conhecida do que já era, e isso é bom, derruba as barreiras do que vai na alma.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 05/03/2015
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