O porquinho cor-de-rosa
Não, não era num porquinho cor-de-rosa que a gente guardava as moedinhas ganhadas das visitas, dos padrinhos, dos servicinhos prestados em casa: varrer o terreiro, encher o balde d’água, jogar milho pra galinhada, juntar batatas na tumba. A gente guardava numa latinha mesmo. Pela minúscula abertura linear na tampa, deixávamos escorregar a moeda, e pronto! Era o nosso cofre. E demorava tanto pra se resgatar o parco tesouro, que a ferrugem se formava no fundo da lata. Sorte que o vil metal era de ótima qualidade, senão...
Meu pai era de economizar. Cresci vendo a caderneta de poupança em seu bolso quando ia mensalmente ao banco conferir o saldo. Segurança pro futuro, pra quando qualquer coisa desse errado. Vida incerta a de quem vive da terra, à mercê de chuva, de enchente, de soalheira, agruras de quem só entende de chão — e só pode contar com o chão— pra sustentar casa e uma escadinha de filhos.
Eu sonhava ter uma cadernetinha como a de meu pai. Achava bonita a capinha verde-escura, com tudo anotadinho à caneta. Certo, ela não era coisa de andar em mão de menino. Mas a gente pegava escondido pra dar uma espiada, ver o quanto estávamos ricos. Medo de ficar sem dinheiro? Mas é nunca! Nosso pai tinha muito guardado na Caixa Econômica. Aquilo dava um conforto bom: não ia faltar ingresso pra matinê de domingo, nem picolé no banco da praça, depois da missa das nove. E aquela delícia de pirulito açucarado por fora que ele trazia enrolado em papel de pão, um pra cada um, quando voltava da cidade? Ah, como era bom ter pai rico, com muito dinheiro no banco.
Hoje a coisa é mais clara: o muito daqueles números certamente se devia à quantidade de zeros que naquele tempo era o que realmente não faltava. Cresci, estudei, fui trabalhar e abri a sagrada caderneta de poupança. Herdei o costume, não teve jeito. Os mais desencantados tentaram me desencantar: perda de tempo e dinheiro. A vida é incerta. Guardar pra quê? Não me convenceram. Mesmo porque não penso que vou morrer. Só vou dormir pra não acordar. E aí, não acordando, não vou saber que morri, muito menos lamentar o que não gastei.
Hoje, não se usa mais cadernetinhas de papel com números à caneta. Tudo informatizado. Mais prático, mas muito mais sem graça. Nada como colocar a caderneta no balcão. Esperar o atendente voltar lá dos fundos do banco com tudo anotadinho. Em caso de alguma dúvida, resposta na hora! Hoje, conferir o saldo é um ato solitário. Modernidades! Tudo bem, a latinha perdeu seu lugar e evoluímos para os irresistíveis porquinhos cor-de-rosa. Ninguém calcula o que rendem aquelas barrigas gordinhas: pagam pra muita gente IPVA, IPTU, e mais uma infinidade de “Is”, impostos em nossa vida.
Peguei o confisco Collor e foi duro de aguentar. E agora rola na Rede: vão confiscar de novo. O efeito manada ameaça a paz das agências, a massa engrossando filas pra retirar recursos amealhados a duras penas. É o fantasma Collor ainda assustando o povo e suas continhas de poupança. Dizem que é só boato, alarme falso, coisa do PiG. Será? Seja lá o que for... Outra vez, não! Deixem em paz nosso Pig cor-de-rosa!
Meu pai era de economizar. Cresci vendo a caderneta de poupança em seu bolso quando ia mensalmente ao banco conferir o saldo. Segurança pro futuro, pra quando qualquer coisa desse errado. Vida incerta a de quem vive da terra, à mercê de chuva, de enchente, de soalheira, agruras de quem só entende de chão — e só pode contar com o chão— pra sustentar casa e uma escadinha de filhos.
Eu sonhava ter uma cadernetinha como a de meu pai. Achava bonita a capinha verde-escura, com tudo anotadinho à caneta. Certo, ela não era coisa de andar em mão de menino. Mas a gente pegava escondido pra dar uma espiada, ver o quanto estávamos ricos. Medo de ficar sem dinheiro? Mas é nunca! Nosso pai tinha muito guardado na Caixa Econômica. Aquilo dava um conforto bom: não ia faltar ingresso pra matinê de domingo, nem picolé no banco da praça, depois da missa das nove. E aquela delícia de pirulito açucarado por fora que ele trazia enrolado em papel de pão, um pra cada um, quando voltava da cidade? Ah, como era bom ter pai rico, com muito dinheiro no banco.
Hoje a coisa é mais clara: o muito daqueles números certamente se devia à quantidade de zeros que naquele tempo era o que realmente não faltava. Cresci, estudei, fui trabalhar e abri a sagrada caderneta de poupança. Herdei o costume, não teve jeito. Os mais desencantados tentaram me desencantar: perda de tempo e dinheiro. A vida é incerta. Guardar pra quê? Não me convenceram. Mesmo porque não penso que vou morrer. Só vou dormir pra não acordar. E aí, não acordando, não vou saber que morri, muito menos lamentar o que não gastei.
Hoje, não se usa mais cadernetinhas de papel com números à caneta. Tudo informatizado. Mais prático, mas muito mais sem graça. Nada como colocar a caderneta no balcão. Esperar o atendente voltar lá dos fundos do banco com tudo anotadinho. Em caso de alguma dúvida, resposta na hora! Hoje, conferir o saldo é um ato solitário. Modernidades! Tudo bem, a latinha perdeu seu lugar e evoluímos para os irresistíveis porquinhos cor-de-rosa. Ninguém calcula o que rendem aquelas barrigas gordinhas: pagam pra muita gente IPVA, IPTU, e mais uma infinidade de “Is”, impostos em nossa vida.
Peguei o confisco Collor e foi duro de aguentar. E agora rola na Rede: vão confiscar de novo. O efeito manada ameaça a paz das agências, a massa engrossando filas pra retirar recursos amealhados a duras penas. É o fantasma Collor ainda assustando o povo e suas continhas de poupança. Dizem que é só boato, alarme falso, coisa do PiG. Será? Seja lá o que for... Outra vez, não! Deixem em paz nosso Pig cor-de-rosa!