SEM PALAVRAS, MAS ALGUMAS PALAVRAS

Este mundo é mesmo um mundo recheado de incoerências e incongruências, nada mais do que palavras escritas ou ditas e ações contrárias que nos levam por caminhos muitas vezes tristes e incompreensíveis. Estou me referindo a comemoração sobre o Dia Internacional da Mulher. Que dia é este tão versado quando na realidade ainda sofremos na pele e na alma pela nossa condição de gênero e sexo? Aqui ou ali a mulher sofre discriminações em toda ordem e sentido, é ferida na essência física, mental e emocional. Assistimos estarrecidos, quando lemos ou ouvimos dos mais diversos sofrimentos infringidos a mulher e as crianças do sexo feminino. Hiatos culturais que não respeitam a condição humana do sexo feminino. Lamentável.

A ela, mulher em várias culturas não lhe é dada nem a mínima condição de vida, tida como objeto inferior é vendida como escrava, e como já dissemos, sofre abusos sexuais, de trabalho, violência física ou mental. Quando não está sendo vendida como escrava ou sendo violentada, está escravizada pela cultura da beleza, da aparência. Certa vez escrevi que a mulher é cantada em versos e prosas, mas continua sofrendo a auguras ditadas pela cultura masculina da força e do poder, muitas vezes dentro e fora de casa. Ocidental ou oriental, não importando, a mulher ainda sofre a desvalorização sobre a condição do ser.

As leis de proteção à mulher estão para serem seguidas, mas se aconteceu essas leis são porque o abuso foi demais, é demais. Viver na condição do feminino é viver na gangorra entre o bem e o mal, dependendo do lado que você nasceu, cresceu poderá ter a sorte de ir em frente com o orgulho de ser alguém, não do sexo feminino, mas simplesmente de ser gente, humana.

Mais triste ainda, é observar que às vezes a opressão surge da própria mulher sobre outra. Exemplo do que estou referindo está no filme “O diabo veste Prada” onde a protagonista principal massacra suas comandadas, na verdade ela massacra a todos que estão a sua volta, uma mulher amarga que transfere o fel aos demais. Outros exemplos são das madrastas e irmãs dos contos de fadas, aí é só escárnio e perseguições a outras figuras femininas. O que dizer quando o ataque chega e acontece do mesmo lado da moeda? Podemos inferir que pode ser um acumulo de complexos gerados por frustrações e sofrimentos e sobre carregam as diretrizes destas mulheres algozes, que buscam na imago masculina o jogo da força e do poder. Desprezam a própria condição de ser mulher.

Sim, ser mulher é viver duplamente a essência humana: primeiro ter vida no contexto material e espiritual, não importando qual sexo pertença, buscar em si a própria evolução. A segunda é a gratidão de ter nascido feminino, e tornar-se mulher ao longo da existência, pois nesta condição lhe foi dado às propriedades de conceder, conceber, gerar e cuidar dos filhos, frutos que são nada menos do que elementos de ligação entre o Divino e a humanidade, frutos da continuidade humana e do vínculo com Deus. Na gratidão o homem, sexo masculino, precisaria compreender que no universo ele não se basta e para acontecer essa formação triunfal será preciso a participação da mulher. O vinculo é parental de Deus aos seus filhos e nos cabe buscamos a parte que nos completa: homens e mulheres. Nada dá para separar um do outro, a isto declaramos de unicidade, espírito de unicidade, de comunhão.

Por isto ao lembrar e comemorar o Dia Internacional da Mulher se deve, acima de tudo, unir nossas forças: mulheres e homens de bens, para saudar a luta contra essa opressão sobre nossas iguais, mulheres, em lugares cuja condição de ter nascido do sexo feminino será sofrer na pele todo tipo de opressão física e mental. Como? Num simples gesto de escuta, muito mais do que palavras poderemos levar uma pessoa a reflexão e consequente transformação de vida. A degradação feminina mora muitas vezes ao lado da nossa casa, ou pior ainda, na própria família. Não dá para pensarmos que não nos confere meter-se na vida do outro e que o outro se quisesse sairia desta, pode ser, mas numa empreitada a constância pela luta é “mister”, é primordial.

Comemorar o dia Internacional da Mulher pode ser celebrar a certeza de que somos fortes e sabemos que existem algumas mulheres mesmo sofrendo o impacto da dor física ou mental se mantém firmes pela força da alma. Diante desta realidade saúdo todas nós mulheres daqui até aos mais recontidos dos cantos deste planeta.

Graça Costa

Amparo, março de 2015.