ZÉ PAULO
Desde sempre, lástima das lástimas, ele entornava todas, mais algumas, com direito a “chorinho”. O pai se foi, a mãe se foi, Zé Paulo ficou livre pra se matar. Entornou em dobro. Sem parar.
Herdou casa própria, recebia aluguel. O irmão – ex-sócio na oficina – lhe dava mesada. Zé Paulo ia, contra o vento. Bebendo muito, comendo nada.
Final de ano.
Zé Paulo, solitário, como sempre, sentou-se na porta de casa. Passou muitas horas sem falar coisa com coisa. Chamaram seu irmão. O irmão chegou. E fez o que deveria ser feito: colocou Zé Paulo numa clínica.
Zé Paulo falando sandices, sandices sem parar.
Apesar da uca, Zé Paulo sempre foi inteligente, gozador nato.
Dias depois, o irmão quis saber da enfermeira se Zé Paulo estava melhor, se o juízo (ou a falta dele) estava voltando. Por via das dúvidas, foi direto ao ponto:
-- Zé Paulo: dois e dois são quanto?
Zé Paulo não se fez de besta:
-- Porra! Isso aqui é hospital ou escola?