Coisas da Lagoa
Vem esta da terra de nossa confreira Marina Alves, a mui cordata Lagoa da Prata. Pois havia lá - e suponho que mais dela agora haverá - uma rua composta só de viúvas. E não pense que tristeza por lá reinasse: era um divertimento atrás do outro, naquele comadrio de fio a pavio.
Hora sagrada - além da do terço, ou dalguma outra devoção - era a do buraco, que mal passada a janta, e caída a noitinha formava sua habitual turminha. E era aquela disciplinada algazarra. E que prolongada farra.
Nada de bebedeiras - pois a animada conversação não dava tempo para esses vícios tão hediondos. Fofoca, natural que se fizesse, pois e ela que a alma sustenta, mesmo quando ostenta a prece. E um pau que sobe, também desce.
E, naquela noitinha fresca, propícia à jogatina, quando enfim a hora bateu, alguém, pela falta de fulana - que também era sicrana e beltrana - o alarme deu:
Gente do céu, cadê ela, por quê será que ainda não apareceu?
O que suscitou uma reação imediata, que, em coro respondeu:
Ah, ainda cuidando de marido, aquela infeliz...