O ciclo da dor necessária

Por muitos e muitos anos era possível temer aquele homem calado e, que por muitas vezes, ao se pronunciar, usava de palavras fortes através de uma voz alta e aterrorizadora. Na verdade nunca o vi praticar violência física, mas, as vezes eu acreditava que ele a cometeria.

Para minha surpresa e de tantos, nas situações mais complicadas, onde éramos capazes de jurar que ele iria ficar furioso, pois era assim que a maioria, quando podia, ficava, aceitava e, até, apoiava com palavras sábias e pacificadoras.

Eu, me surpreendia de forma positiva e, guardava aquelas palavras na minha cabeça, muito embora tudo isso ocorresse de forma silenciosa, pois eu preferia não dar a ele estes créditos, sei lá como ele poderia agir ou, qual seria seu objetivo!

Na verdade eu achava que ele fazia isso somente para aparecer, eu não acreditava em sua bondade perpétua.

Confesso que eu não observava, mas, nunca parei para avaliar isso, sua presença parecia espantar todo e qualquer problema que, porventura, eu tivesse que passar. Teve dias que o mundo conspirava contra mim e, tentava me atingir com espadas, adagas, pauladas, pedradas, punhaladas e, nada disso me atingia. Só depois de algum tempo fui perceber que nestes acontecimentos, ele estava sempre por perto. Não sei se isso tem a ver, mas, era assim que acontecia!

Finalmente nós o pegamos, seu segredo será revelado e, este homem esquisito, ficará nú perante a todos nós. Temos a certeza absoluta que desta vez ele não tem escapatória e, portanto, muitos de nós deixaram de realizar seus afazeres para está aqui e, ver cair sua máscara.

Na hora marcada, lá estava aquela figura, parada, sem esboçar nenhuma reação e, suas roupas eram retiradas, peça por peça. O que me chamava a atenção neste fato, era sua expressão tranquila e serena, mesmo sendo um momento tão adverso para sua vida.

Depois que ele ficou nú por completo, observamos que sua frente, aquela que costumávamos ver, estava limpa e, afora as marcas do tempo, não haviam manchas algumas em sua pele.

Pedimos então que ele virasse, particularmente, depois que isso ocorreu, cai em prantos, assim como muitos, prantos de arrependimentos, que nos causaram vergonha e um baita remorso.

Suas costas estava cheio de marcas e, repletas por objetos cortantes. Percebemos enormes cicatrizes por toda parte, particularmente não sei como suportou tanta dor em silêncio, reconheci boa parte dos objetos que o perfuravam, pois, todos eles seria para mim e, no entanto, ele sigilosamente, evitava que isso ocorresse.

Na realidade, aquela figura sem vaidades, grosseira, profissional e presente, estava ali para nos ver sorrir e prosperar, sem paga, pelo mero prazer de nos ver felizes.

Não pude fazer mais nada por ele, que após tudo aquilo, se foi para sempre!

Foi quando percebi sua real mensagem, por isso estou aqui agora, com as costas sangrando de tantas pancadas, silenciosamente resistindo, dando continuidade a um ciclo, me alimentando dos risos que ela, a dor, provocou em outros. Sofrendo com as palavras, atos e as insinuações cruéis dos meus amores, até que chegue o dia em que irão me despir.