FUTEBOL: TÉCNICA X SIMPLICIDADE
Estava eu assistindo Corinthians e Ituano quando uma cena mexeu com a memória e provocou saudade. Tite, no espaço destinado ao técnico, gesticulava dando orientações aos jogadores, numa linguagem que até surdo mudo entenderia. Todos, inclusive o próprio Tite acreditava que se tudo fosse feito como o determinado, haveria um avanço e as chances de acontecer um gol eram enormes. Daí que, ajudado pela memória, veio um ataque de saudade: Ano de 1 958, Copa do Mundo na Suécia. O Brasil era o favorito isolado na conquista do título. Entre outros grandes craques, Pelé e Garrincha eram meus grandes heróis. Do então garoto Pelé nada preciso dizer pois por mais de meio século ao se falar em futebol é ele a figura viva. Mas e Garrincha? Esse era meu ídolo maior. O que me cativava: As habilidades de craque e a sua simplicidade. Carioca de Pau Grande (Pequeno bairro de Magé, Rio de Janeiro) era de família humilde e muito pobre. A Natureza tinha lhe deixado uma ferramenta que facilitaria sua sobrevivência no Reino Humano. Era miúdo, de pernas arqueadas e rápido como um corisco. Seus dribles, de deixar o adversário sentado na grama, são históricos. Era isso que lhe importava. Os efêmeros valores, ele nem por perto tinha passado. Tudo era importante e nada era mais importante. Tanto fazia falar de Queimados como de Londres. Era alegre e gostava de falar sobre suas viagens. Certa feita quando passaram pela França ele quis falar de uma fato e assim se referiu a Paris: “Aquela cidadona que seu Zezé caiu na calçada”. Como um pássaro que era para ter vôo curto, tinha vôo longo...
Foi então que a imagem do Tite me lembrava: Nas véspera do jogo, entre Brasil e Alemanha (aurgh!!!), em 1 958, o técnico Vicente Feola, mais sua equipe reuniu nossos heróis para uma preleção. ...então dizia ele: Toda vez que formos iniciar, através de um tiro de meta, devemos proceder da seguinte forma... O Gilmar deve jogar a bola com as mãos ou dar um chute curto para o Nilton Santos ou Belini. Estes em passes rápidos e curtos deverão lançar Orlando ou Zito. Prosseguindo a jogada terão duas opções: Didi ou Vavá (e ia traçando num quadro negro um complexo mapa de linhas curtas em forma de setas). Didi ou Vavá, seja qual for o caso devem obrigatoriamente explorar a ponta direita (Garrincha) que dribrará, se necessário for e soltará para Zagalo que já vem pentrando e alta velocidade. Este dá um breque e fica com todo espaço livre para prosseguir a jogada. Então vê Pele, pela meia esquerda penetrando. Solta rapidamente para o garoto que, quase livre, escolhe o canto e marca... O grupo estava atento e concentradíssimo... “... alguém tem alguma pergunta?” É então que o pequeno Anjo de pernas tortas manda ver esta jóia de questão: “... só quiria sabê uma coisa: O sinhô vai pidi prus alemão deixá nois fazê todo esse frege e ainda marcá o gol?...” (oldack/02/03/015 - 16h10)