O nascimento de SAMU
Era para ser somente mais um dia como outros tantos, em casa e em companhia de mulher e filhos curtindo mais um dos finais de semana que eram sempre iguais, em uma rotina que, apesar de tediosa, hoje vejo, era até gratificante – almoço em casa dos sogros, uma cochilada e o retorno para a própria casa para curtir a família.
Contudo, aquele final de semana era especial, já prognosticado pelo compromisso de ter que ir à oficina em que preparávamos nossos carros para as provas de rallye de que então participava para verificar o andamento dos preparativos e ultimar a instalação de alguns apetrechos em meu carro – instalação de “speed pilot”, “twin master”, Santo Antonio (armação de aço para proteção em caso de capotagem), bandeja suporte para a calculadora, dentre outros – o que fiz.
Fui cedo para a oficina, sede da equipe Tukar que eu integrava, passando o dia envolvido no acompanhamento das soldagens das diversas peças que compunham as traquitanas e, o que é pior, sem o devido cuidado de proteger a visão com o uso de máscaras apropriadas durante as soldas elétricas que eram dadas durante todo o tempo, até mesmo expondo-me a uma distância não segura, segurando as peças.
Ao final da tarde voltei para casa, tomei um banho reparador e dormi um cochilo. Acordei por volta das 19 horas, sentindo uma ligeira ardência nos olhos, como que uma coceira que importunava cada vez mais intensamente. Fui à janela do apartamento e olhei para a rua adiante. Estranhamente, a rua parecia que como coberta por uma densa cerração e nos postes de iluminação o que se via eram somente pequenos halos de luz que não chegavam a atingir o próprio chão, como se tivessem sido substituídas por meras velas insuficientes para os propósitos de iluminação.
Comentei com minha mulher e ela disse que não, que as ruas estavam profusamente iluminadas, o que nos motivou a procurarmos auxílio médico, pois o problema era com minha visão. Assim fizemos. Pegamos o carro e nos dirigimos para o posto do SAMU (Serviço de Atendimento Médico de Urgência) mais próximo, eu à direção do veículo.
No meio do caminho, de repente, tudo escureceu – vi-me inteiramente cego, sem enxergar absolutamente nada, black out total. Freei o carro imediatamente, o qual deu um cavalo de pau em plena avenida em que estava e paramos, felizmente sem maiores consequências, apesar dos sustos aos outro veículos e dos inevitáveis xingamentos dirigidos a minha mãe que, diga-se de passagem, não tinha nada a ver com o fato e que até mesmo era contrária a minha participação em corridas, sendo oportunamente socorridos por um amigo que reconheceu meu carro e nos atendeu, dirigindo-o para o SAMU.
Lá chegando, fomos atendidos pelo médico de plantão que nos conduziu a uma sala para exames, quando constatou que tivera as córneas e cristalinos dos dois olhos queimadas pelo clarão da solda elétrica e deveria ser encaminhado para uma clínica especializada para exames mais específicos.
A área de atendimento do SAMU dispunha de uma grande sala, dividida por paredes de madeira até a metade de sua altura, constituindo inúmeras saletas. Enquanto ainda estava sendo examinado, ouvia-se nitidamente que alguém na saleta ao lado estava sofrendo angustiadamente de dores na barriga, possivelmente uma adolescente, como se concluía por seu timbre de voz e por seus gemidos.
O médico educadamente pediu-me licença para consultá-la, já que eu teria que ser removido para uma clínica e foi atendê-la, daí ouvindo o seguinte diálogo:
- O que está havendo? O que você está sentindo? – perguntou o médico, solícito.
Era uma adolescente, na faixa dos quinze anos, vestida com calças jeans e túnica larga e folgada como é costume até nos dias de hoje, acompanhada da mãe, que se prestou a responder:
- Ela está com prisão de ventre há dois dias, doutor, se queixando de dores na barriga. Deve ser apêndice...
- Primeiro, vamos tirar esta calça apertada para que eu possa examiná-la...
Ato contínuo, ao a enfermeira abaixar as calças da menina, ouviu-se o choro de um recém nascido e o médico constatar:
- Mas isto é um parto. Nasceu um belo menino, senhora!
- Mas, como, minha filha, o que é isto? – perguntou a mãe, assustada.
- Eu juro que não sei, mamãe, deve ter sido na hora em que estávamos vindo para cá...- respondeu a jovem, entre lágrimas.
Por não preparados para esta insólita situação, a criança foi limpa e envolvida em gases cirúrgicas para poder ir para casa e eu fui encaminhado para a Clínica Santa Beatriz para um merecido descanso por alguns dias pelos danos causados às vistas, de lá saindo somente na próxima semana, sendo que, por ser meu caminho, passei no posto onde soube que a criança estava bem e já fora até batizada com o nome de Samuel, mas que era carinhosamente chamado pelos felizes avós de SAMU... Mera coincidência, certamente.
Contudo, aquele final de semana era especial, já prognosticado pelo compromisso de ter que ir à oficina em que preparávamos nossos carros para as provas de rallye de que então participava para verificar o andamento dos preparativos e ultimar a instalação de alguns apetrechos em meu carro – instalação de “speed pilot”, “twin master”, Santo Antonio (armação de aço para proteção em caso de capotagem), bandeja suporte para a calculadora, dentre outros – o que fiz.
Fui cedo para a oficina, sede da equipe Tukar que eu integrava, passando o dia envolvido no acompanhamento das soldagens das diversas peças que compunham as traquitanas e, o que é pior, sem o devido cuidado de proteger a visão com o uso de máscaras apropriadas durante as soldas elétricas que eram dadas durante todo o tempo, até mesmo expondo-me a uma distância não segura, segurando as peças.
Ao final da tarde voltei para casa, tomei um banho reparador e dormi um cochilo. Acordei por volta das 19 horas, sentindo uma ligeira ardência nos olhos, como que uma coceira que importunava cada vez mais intensamente. Fui à janela do apartamento e olhei para a rua adiante. Estranhamente, a rua parecia que como coberta por uma densa cerração e nos postes de iluminação o que se via eram somente pequenos halos de luz que não chegavam a atingir o próprio chão, como se tivessem sido substituídas por meras velas insuficientes para os propósitos de iluminação.
Comentei com minha mulher e ela disse que não, que as ruas estavam profusamente iluminadas, o que nos motivou a procurarmos auxílio médico, pois o problema era com minha visão. Assim fizemos. Pegamos o carro e nos dirigimos para o posto do SAMU (Serviço de Atendimento Médico de Urgência) mais próximo, eu à direção do veículo.
No meio do caminho, de repente, tudo escureceu – vi-me inteiramente cego, sem enxergar absolutamente nada, black out total. Freei o carro imediatamente, o qual deu um cavalo de pau em plena avenida em que estava e paramos, felizmente sem maiores consequências, apesar dos sustos aos outro veículos e dos inevitáveis xingamentos dirigidos a minha mãe que, diga-se de passagem, não tinha nada a ver com o fato e que até mesmo era contrária a minha participação em corridas, sendo oportunamente socorridos por um amigo que reconheceu meu carro e nos atendeu, dirigindo-o para o SAMU.
Lá chegando, fomos atendidos pelo médico de plantão que nos conduziu a uma sala para exames, quando constatou que tivera as córneas e cristalinos dos dois olhos queimadas pelo clarão da solda elétrica e deveria ser encaminhado para uma clínica especializada para exames mais específicos.
A área de atendimento do SAMU dispunha de uma grande sala, dividida por paredes de madeira até a metade de sua altura, constituindo inúmeras saletas. Enquanto ainda estava sendo examinado, ouvia-se nitidamente que alguém na saleta ao lado estava sofrendo angustiadamente de dores na barriga, possivelmente uma adolescente, como se concluía por seu timbre de voz e por seus gemidos.
O médico educadamente pediu-me licença para consultá-la, já que eu teria que ser removido para uma clínica e foi atendê-la, daí ouvindo o seguinte diálogo:
- O que está havendo? O que você está sentindo? – perguntou o médico, solícito.
Era uma adolescente, na faixa dos quinze anos, vestida com calças jeans e túnica larga e folgada como é costume até nos dias de hoje, acompanhada da mãe, que se prestou a responder:
- Ela está com prisão de ventre há dois dias, doutor, se queixando de dores na barriga. Deve ser apêndice...
- Primeiro, vamos tirar esta calça apertada para que eu possa examiná-la...
Ato contínuo, ao a enfermeira abaixar as calças da menina, ouviu-se o choro de um recém nascido e o médico constatar:
- Mas isto é um parto. Nasceu um belo menino, senhora!
- Mas, como, minha filha, o que é isto? – perguntou a mãe, assustada.
- Eu juro que não sei, mamãe, deve ter sido na hora em que estávamos vindo para cá...- respondeu a jovem, entre lágrimas.
Por não preparados para esta insólita situação, a criança foi limpa e envolvida em gases cirúrgicas para poder ir para casa e eu fui encaminhado para a Clínica Santa Beatriz para um merecido descanso por alguns dias pelos danos causados às vistas, de lá saindo somente na próxima semana, sendo que, por ser meu caminho, passei no posto onde soube que a criança estava bem e já fora até batizada com o nome de Samuel, mas que era carinhosamente chamado pelos felizes avós de SAMU... Mera coincidência, certamente.