COMPORTAMENTO HUMANO
Verdadeiramente interessante o ponto de vista do filósofo francês Edgar Morin que, perto dos 90 anos de idade, se mantém em plena atividade intelectual e possui dezenas de títulos publicados.
Suas observações sobre a sociedade atual enfocam pontos que para a maioria passam despercebidos.
A partir da revolução industrial, a academia deu ênfase à fragmentação do saber com o advento da especialização.
Aqueles estudiosos do passado que detinham conhecimentos sobre física, matemática, música, astronomia, artes plásticas, fisiologia humana e vegetal que passavam praticamente a vida toda perseguindo uma hipótese já não mais existem.
Se por um lado, com o suporte das comunicações eletrônicas, temos a otimização das técnicas, o encurtamento do tempo para asseverar ou negar as hipóteses e o aprimoramento das invenções, cada dia mais raras, por outro lado temos também o monopólio, a segregação e o controle desses conhecimentos e os filtros pelos quais se determinam a que nível social esses bens e técnicas serão disponibilizados.
Não se objetiva o bem comum, mas o de uma pequeníssima parte da sociedade isolada e detentora dos bens materiais e, até certo ponto, intelectuais.
Essa fragmentação do saber, com o advento da especialização, faz com que o homem acumule informação sem deter o conhecimento porque, isso todos nós entendemos muito bem, não se pode dissociar as partes do todo.
Nós somos componentes da natureza e com os demais seres vivos, fazemos parte do sistema que liga tudo a todos como numa teia.
Há interdependência entre todos porque somos sistêmicos e um sistema só é verdadeiramente atuante quando seus órgãos agem harmoniosamente.
Conhecimento é ter o domínio da informação e saber utilizá-la na ocasião necessária.
Em termos sociais, o ser humano saiu (não muito) do barbarismo destruidor, das invasões, da dominação escravista para a dominação do lucro e dos resultados numéricos, que o filósofo Edgar Morin chama de “barbárie fria”, onde somos encarados como elos da cadeia, onde a individualidade é negligenciada, cuja importância está diretamente ligada à produtividade.
Perdemos o valor coletivo.
Supervalorizamos o individualismo e o ter em detrimento do ser.
Nossa visão de coletividade plural foi trocada pela estreiteza do comportamento único, globalizado, e pela falta de respeito pelo outro e por tudo o que é diferente.
As faltas de tolerância e aceitação de pontos de vista divergentes ficam mais evidentes na política e nas religiões monoteístas.
Regimes totalitários são impostos às populações sem que se lhes consulte as opiniões.
Não importa qual seja o lado (direito ou esquerdo) da origem do regime de governo nem que nome tenha, ele será imposto sempre através da coerção.
No campo religioso, vê-se o conflito entre o que está postulado e o vivenciado.
Há tolerância e certo grau de convivência pacífica entre os praticantes do politeísmo, mas nas três religiões monoteístas (judaísmo, islamismo e cristianismo) hipocritamente se prega a paz, a convivência fraterna, mas na ação se persegue, destrói ou confisca bens e mata indiscriminadamente o seu semelhante, ao qual, pela escritura, deveria honrar.
Somos os seres humanos descendentes das gerações que, talvez, cem milhões de anos antes do presente, vêm escrevendo a história da nossa existência na Terra.
Muitas vezes evoluímos, muitas vezes involuímos e assim será até que, pela sucessão de espécies, nós os Homo sapiens sapiens atuais, dermos origem a outra espécie, talvez melhor, talvez pior, mas sem dúvida, mais adaptada do que a nossa.