O PLEC, PLEC DO TAMANQUINHO

Plec, plec, plec era o fim, lá vinha o tamanquinho, logo acima uma calça boca de sino, uma camisa listrada e uma bolsa com a alça enfiada no ombro. Coisa da moda. Não, não, não era uma mocinha era um jovem rapaz. A moda produzia e desproduzia como hoje e andar na moda exigia esforço, risco e assim a maioria preferia somente a calça boca de sino e quando muito uma camiseta listrada. No grupo dos mais rígidos estavam os que não compreendiam muito bem a norma e faziam exigência exacerbadas constrangendo os inferiores.

Uma peça mais atualizada com a moda fazia com que o portador se esgueirasse pelos jacarandás com um olho na porta da administração de onde poderia soar o chamado:

- Aluno, aluno, venha cá!

Plec, plec, plec e lá se foi o tamanquinho até a presença do tão entusiasta disciplinador ...

Rapidamente os demais aproveitaram para levar as bocas de sino para passear, na curta tarde de quarta-feira.

Os tamanquinhos não atraiam a maioria, alguns por terem usado-os pelo menos uma meia dúzia durante a infância e adolescência, não os de tirinhas - os da moda, mas os de bico redondo, daqueles que grudavam no barro, enquanto eram realizadas as lidas diárias. Outros por terem medo de torcerem o tornozelo ou deixarem um rastro de plec, plec.

Passaram os anos e os tamanquinhos da moda alternaram idas e vindas, sempre reservados ao público feminino, talvez aquela tenha sido a única aparição ditada pela moda ao público dito masculino. Embora já fora de moda na linha masculina os travestis que habitavam a avenida Independência, já na segunda metade dos anos oitenta do século passado cumpriam o trottoir sobre tamanquinhos, que agilmente eram calçados nas mãos, quando empreendiam fuga ao serem fustigados pela polícia por estarem em algazarra nas proximidades dos muitos hospitais localizados ao longo da avenida.

O desejo do disciplinador eram os ternos e sapatos sociais e gravatas, talvez ele sonhasse que o hábito fizesse o monge. Os anos mostraram-me que não!

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 02/03/2015
Reeditado em 23/04/2021
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