Viva o Rio de Janeiro
No mar estava escrita uma cidade
Carlos Drummond de Andrade
1. Sim, o Rio de Janeiro, que hoje está festejando seus 450 anos, é a cidade de todos os brasileiros e isso é uma "verdade eterna" como diria o Nelson Rodrigues.
Não importa se o brasileiro é dos pampas gaúchos, do pantanal, do sertão nordestino, do norte, morador do mais distante e escondido povoado da selva amazônica.
Todos admiram e até amam a Cidade Maravilhosa; e os que não a conhecem, sonham em conhecê-la. Não é preciso ser carioca, redigo, para amar o Rio, cidade "cheia de encantos mil".
2. Eu, por exemplo, nasci no Ceará, moro há mais de meio século em Salvador, uma das mais belas cidades do mundo, mas tenho pelo Rio de Janeiro, sem medo de pecar por excesso, um sacrossanto e puro carinho.
3. Sinto-me bem perambulando por Copacabana, Ipanema e Leblon e na estreita e histórica Ouvidor, sem esquecer a magia e o encanto de outros recantos da cidade, na Zona Sul e na Zona Norte.
Sinto-me bem nos shoppings badalados e sofisticados da cidade e muito bem, também, fazendo compras na democrática e borbulhante Saara.
Sinto-me bem lanchando na histórica e luxuosa Confeitaria Colombo ou comendo um filé com fritas no Amarelinho, no coração da Cinelândia, olhando pro Teatro Municipal e para a Biblioteca Nacional, no momento, atravessando séria crise.
Sinto-me bem no Corcovado, no Maraca, na igreja da Candelária.
Sinto-me bem vendo o vaivém dos bondinhos do Pão de Açúcar ; admirando a poética enseada de Botafogo; passando pela lagoa Rodrigo de Freitas; na ponte Rio-Niterói; e tomando um chope no Lucas, nas proximidades da praia de Copacabana, que acolhe, chova ou faça sol, lindas mulheres.
Sinto-me bem vendo os morros do Rio; assistindo, por exemplo, um fim de tarde no Vidigal enfeitado pelos Dois Irmãos.
4. No IV Centenário do Rio de Janeiro, portanto, há 50 anos, um dos mais ilustres cariocas, o brilhante e corajoso jornalista Carlos Lacerda, que governava o Estado da Guanabara, saudou a sua cidade com a crônica intitulada Nada mais fácil do que amar o Rio.
5. Para mais nada acrescentar à minha modesta homenagem à Cidade Maravilhosa, resolvi transcrever pedaços da belíssima crônica do Carlos Lacerda que mostra por que é fácil amar o Rio.
6. Escreveu Lacerda sobre os cariocas: "Somos um povo sem rancores, cuja alegria nada consegue destruir, cuja esperança nunca esmorece, cuja bravura ninguém domou, cuja honra ninguém escarneceu, cuja fibra ninguém destroçou, cujo entusiasmo ninguém abateu".
"Somos um povo carnavalesco mas um povo sofrido; um povo de sambas dolentes e reações prontas. Somos um povo com senso de humor e com repentes de ira sagrada".
"Somos um povo impetuoso e generoso, capaz de disciplina e de indocilidade; povo que não gosta de se curvar, mas que se inclina diante da beleza - que nasce aos nossos olhos todas as manhãs. Aqui os mais pobres moram de rosto voltado para a maravilha da natureza, que ninguém jamais conseguiu desfigurar."
7. E Lacerda escreveu, brindando os cariocas com sua belíssima crônica: "Somos uma síntese do Brasil, porque somos a porta do Brasil, para o mundo, e somos, do mundo, a vera imagem que ele faz de nós."
8. Depois do depoimento do Lacerda, à minha crônica, nada tenho a acrescentar, além de repetir o Gil, na sua carioca canção: "Alô, Rio de Janeiro, aquele abraço!"
No mar estava escrita uma cidade
Carlos Drummond de Andrade
1. Sim, o Rio de Janeiro, que hoje está festejando seus 450 anos, é a cidade de todos os brasileiros e isso é uma "verdade eterna" como diria o Nelson Rodrigues.
Não importa se o brasileiro é dos pampas gaúchos, do pantanal, do sertão nordestino, do norte, morador do mais distante e escondido povoado da selva amazônica.
Todos admiram e até amam a Cidade Maravilhosa; e os que não a conhecem, sonham em conhecê-la. Não é preciso ser carioca, redigo, para amar o Rio, cidade "cheia de encantos mil".
2. Eu, por exemplo, nasci no Ceará, moro há mais de meio século em Salvador, uma das mais belas cidades do mundo, mas tenho pelo Rio de Janeiro, sem medo de pecar por excesso, um sacrossanto e puro carinho.
3. Sinto-me bem perambulando por Copacabana, Ipanema e Leblon e na estreita e histórica Ouvidor, sem esquecer a magia e o encanto de outros recantos da cidade, na Zona Sul e na Zona Norte.
Sinto-me bem nos shoppings badalados e sofisticados da cidade e muito bem, também, fazendo compras na democrática e borbulhante Saara.
Sinto-me bem lanchando na histórica e luxuosa Confeitaria Colombo ou comendo um filé com fritas no Amarelinho, no coração da Cinelândia, olhando pro Teatro Municipal e para a Biblioteca Nacional, no momento, atravessando séria crise.
Sinto-me bem no Corcovado, no Maraca, na igreja da Candelária.
Sinto-me bem vendo o vaivém dos bondinhos do Pão de Açúcar ; admirando a poética enseada de Botafogo; passando pela lagoa Rodrigo de Freitas; na ponte Rio-Niterói; e tomando um chope no Lucas, nas proximidades da praia de Copacabana, que acolhe, chova ou faça sol, lindas mulheres.
Sinto-me bem vendo os morros do Rio; assistindo, por exemplo, um fim de tarde no Vidigal enfeitado pelos Dois Irmãos.
4. No IV Centenário do Rio de Janeiro, portanto, há 50 anos, um dos mais ilustres cariocas, o brilhante e corajoso jornalista Carlos Lacerda, que governava o Estado da Guanabara, saudou a sua cidade com a crônica intitulada Nada mais fácil do que amar o Rio.
5. Para mais nada acrescentar à minha modesta homenagem à Cidade Maravilhosa, resolvi transcrever pedaços da belíssima crônica do Carlos Lacerda que mostra por que é fácil amar o Rio.
6. Escreveu Lacerda sobre os cariocas: "Somos um povo sem rancores, cuja alegria nada consegue destruir, cuja esperança nunca esmorece, cuja bravura ninguém domou, cuja honra ninguém escarneceu, cuja fibra ninguém destroçou, cujo entusiasmo ninguém abateu".
"Somos um povo carnavalesco mas um povo sofrido; um povo de sambas dolentes e reações prontas. Somos um povo com senso de humor e com repentes de ira sagrada".
"Somos um povo impetuoso e generoso, capaz de disciplina e de indocilidade; povo que não gosta de se curvar, mas que se inclina diante da beleza - que nasce aos nossos olhos todas as manhãs. Aqui os mais pobres moram de rosto voltado para a maravilha da natureza, que ninguém jamais conseguiu desfigurar."
7. E Lacerda escreveu, brindando os cariocas com sua belíssima crônica: "Somos uma síntese do Brasil, porque somos a porta do Brasil, para o mundo, e somos, do mundo, a vera imagem que ele faz de nós."
8. Depois do depoimento do Lacerda, à minha crônica, nada tenho a acrescentar, além de repetir o Gil, na sua carioca canção: "Alô, Rio de Janeiro, aquele abraço!"