A PERIGUETE DE CRISTO
Trajava ela uma blusa rosa bem apertada. Delineava todo o busto dela. Que seios! Tinha estampado na blusa, na cor branca, a palavra "FÉ", assim mesmo como está entre aspas: tudo maiúsculo e letras garrafais na escrita helvética. Abaixo da blusa vinha um micro short jeans esbranquiçado. Havia uns fiapos de linha nas bordas, por onde desciam as doces pernocas da mulher. O mesmo short que ela usava para se fotografar diante a um espelho e mandar para o seu perfil no "face".
Era ela da Igreja Universal do Reino de Zeus. Uma filial que seu pai presidia. Mesmo quando ela estava de folga do alter ego de evangélica, ela gostava de pregar "a palavra" para os amigos nas redes sociais. Revezava as citações dos versículos da Bíblia e as respectivas explicações "engana trouxa", que ela ganhava da Igreja, com outros assuntos. Geralmente os fatos ocorridos nas baladas protestantes ocorridas no fim de semana passado ou com a narração tímida das peripécias que aprontou com o namorado no Motel El Shaday, o motel do cristão.
Seus ouvidos viviam entupidos com os fios do fone de ouvido de seu celular. Ela ouvia nele muito gospel. Geralmente funk ou rap. Cantava junto com a música. Enchia o saco no ônibus. Mas, para ela, "se é para Zeus, não deve perturbar ninguém". Ela era mesmo crente até nisso.
Consta que um rapaz folgado que passava na calçada onde estava a moça, não resistiu a sedução incomum e desceu a mão pelo corpo dela. Ela, é claro, honesta, não aprovou nada daquilo. Elevou os olhos com bastante fúria para o tarado e ergueu o braço direito com a palma da mão em posição de dar um golpe de karatê. Os olhos do rapaz miraram a palma antes que o ato sugerido pudesse se findar.
"Mulher, Deus está convosco e eu quis um pouco dele para mim". Disse o homem achando que ia colar a desculpa. "Deus não fica na minha bunda, idiota". Ela não engoliu. Mas desistiu do tablefe e aproveitou para praticar o perdão, que ela havia tomado conhecimento recentemente em uma palestra do pastor da igreja, cujo foco era perdoar o próximo quando este cometer um erro. Desde que ele se converta e se mantenha na fé do perdoador e arque sempre com o compromisso financeiro que a fé os obriga.
Nisso, a mão dela foi parar dentro da bolsinha a tiracolo que ela carregava e saiu de lá com um papelzinho. Era um convite para ir à um culto da igreja. O homem, entendendo que se tratava de um álibi para que um possível sexo casual rolasse, pegou a folhinha e a guardou.
Grande marketing fez a moça para captar fiéis para a congregação que o pai dirigia. Grande besteira ficara de fazer o rapaz se para o culto, na data do convite, ele seguisse. Ia deixar de ser tarado e passaria a ser um alienado religioso e devedor. Disso a periguete protestante estava livre.
*Indico para você que leu: http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/5152515