NOITADAS NO VARANDÁ

SÉRIE FIGURAS DA BAHIA

NOITADAS NO VARANDÁ

O Varandá, durante alguns anos foi o bar mais freqüentado pelos músicos e poetas de Salvador.

Sua localização era privilegiada.Tendo o Pau da Bandeira como endereço, partindo do Palácio Rio Branco, então sede de despachos do governador, na Rua Chile, numa íngreme descida que saía na Ladeira da Montanha, onde funcionavam os lupanares mais famosos da Bahia, inclusive o lendário 63.

Corria a segunda metade da década dos anos 1960 e Sandoval, ex crooner da orquestra de Britinho e seus Stucas, que por muitos anos havia trabalhado no Clube Carnavalesco Fantoches da Euterpe, na rua Democrata,próximo à Ladeira do Contorno, montou o movimentado e atrativo bar, com show ao vivo diariamente.

Este bar, sem dúvidas, passou a ser a coqueluche de Salvador, cujo turismo ainda ensaiava os primeiros passos.

Salvador era um canteiro de obras. Em construção, as avenidas de vales, viadutos e o Centro Administrativo da Bahia, naquela que seria futuramente a Av. Luiz Viana Filho, mas que é conhecida por Av. Paralela.

Nesta época, a Rua Chile, Av 7 de Setembro, Rua Carlos Gomes e adjacências, compunham o grande comércio de Salvador, com algumas artérias da cidade baixa, entre o Elevador Lacerda e a Praça Deodoro. A exceção de uma ou outra, todas as agências bancárias ali se localizavam...

O cenário do Varandá era interessante. A entrada pelo Pau da Bandeira e as mesas dispostas frontais à Bahia de Todos os Santos. Uma vista esplendorosa para curtir uma cerveja nos finais de tarde ou aos sábados... além das movimentadas noitadas...

O grande violonista João da Matança era a estrela do bar, mulato, alto e esguio, já com seus 60 anos, contratado para acompanhar ao violão aqueles que quisessem dar uma palhinha no show. Os artistas da Bahia desfilavam ao microfone e as noites eram verdadeiramente inesquecíveis...

Quantas vezes saíamos já com o sol da manhã a nos intimar a volta ao real.

Além do proprietário, Sandoval, bom e experiente cantor, que havia sido contratado também no Tabaris Dancing, freqüentavam o Varandá artistas famosos e emergentes, a exemplo de Batatinha, Panela, Ederaldo Gentil, Riachão, Edil Pacheco, Jocafi, João Só, Carlos Uzel, Ilma e Jane Gusmão, Vevé Calazans, Carlos Napoli, eu, Antonio Carlos Sena, Luiz Villas Boas, entre outros. Éramos todos amigos, alguns com parcerias em vários trabalhos, principalmente entre os universitários.

Mais de 30 anos se passaram e alguns deles já se encontram em outro plano, a exemplo de João da Matança, Sandoval, Batatinha, João Só...

O Varandá resistiu até o início dos anos 1970, quando Sandoval fundou uma boite na Pituba e fechou as suas portas... Foi um ponto de encontro a menos para aquela geração de artistas. Anos após com a abertura do "Quintal" nas proximidades do Passeio Público, muitos de nós migramos para lá. Só que o Varandá é insubstituível...

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 18/09/2005
Reeditado em 25/09/2005
Código do texto: T51532
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