''CURUZES!!!''
Ysolda Cabral
Pisando energia boa, sentindo o cheiro do Mar que a Brisa me traz, generosamente, sem nada pedir em troca, desfaço-me dos compromissos marcados para hoje – dentista, almoço comigo, e supermercado –, não por escolha; e me deixo aqui ficar diante dessa tela, escutando o canto dos poucos pássaros, que nada programaram para hoje, permanecendo, por escolha, diferentementes de mim, na pousada vizinha a vadiar. Lá estão eles na companhia uns dos outros, a cantarem, ora alegres, ora a cochilarem preguiçosamente. O dia começa a esquentar. A sensação que tenho é de que, se a chuva demorar, minha mente poderá ser, literalmente, fritada a qualquer momento...
Ah, calor causticante! Que saudade de sentir um friozinho, tomar um chocolate quente e me deixar ficar a cochilar num velho e fofo sofá! Como o verão enfada, cansa! Não vejo a hora do inverno chegar, mesmo considerando que aqui não temos inverno, apenas um pequeno e quase imperceptível arremedo. O fato é que o calor é tanto que ontem fui me deitar, farta de fadigamento, e, mesmo com o ar-condicionado posto no ponto máximo, quando consegui conciliar o sono ele partiu para o pesadelo, levando-me a um lindo jardim de flores de plástico se derretendo ao sol, formando, de repente, uma difusa massa que, em grande diagonal e sem saída, vinha em minha direção. Acordei moída!
Penso que tudo isto é o resultado de uma roupa errada que vesti ontem para sair de casa. Ora, se a maioria das pessoas veste branco na sexta-feira, independente de religião, porque achei de vestir vermelho?! Quando cheguei no Banco 24 horas, as pessoas que estavam vestidas de branco e de amarelo me olharam com ar de reprovação. No posto de gasolina o bombeiro, de verde, nem trouxe a maquininha para passar o meu cartão! Tive que descer do carro. Até a porta de vidro, transparente e automática, do prédio onde trabalho, não quis abrir para mim, toda vestida de vermelho!
Será que o mundo enlouquecido pensou que eu estava fazendo apologia ao PT?
“Curuzes!!!"