Escrotidão
O cidadão comum, o trabalhador, seja ele um balconista de supermercado ou um profissional liberal, precisa pagar para adquirir o que come, para saldar a prestação do financiamento da casa própria ou do carro, para abastecer o veículo que possui, para estar em dia com o IPTU, o IPVA, etc., para comprar o bilhete aéreo com a taxa de embarque, para manter o fornecimento de gás, de luz – enfim, precisa pagar por tudo para viver com dignidade.
O político não precisa pagar por nada disso. Ele dispõe até de planos de saúde – tudo com o financiamento do Estado. E agora, para maior indignação do trabalhador, que não tem nenhuma das regalias da classe política, as passagens aéreas estão sendo estendidas às esposas dos políticos. Dando condições a que cada uma se transforme numa espécie de primeira dama.
E isso, num país que é governado pelo Partido dos Trabalhadores, constitui-se num profundo desrespeito à classe trabalhadora. O fato de algumas agremiações políticas terem aberto mão de mais essa esdrúxula prerrogativa não é suficiente. Eles deveriam ter conclamado a população ao repúdio de mais essa excrescência. E a sociedade, por sua vez, poderia ter motivos para considerar esse acinte tão pernicioso e ultrajante como a operação lava-jato, o mensalão e todo tipo de atos de corrupção que vêm assolando o país nesses últimos tempos. E sair às ruas pedindo o impeachment dessas vantagens inerentes ao mandato parlamentar, na impossibilidade do impeachment dos políticos.
Isso não é mais uma vergonha, no dizer de conhecido âncora de programa jornalístico. É uma escrotidão.
Defendida tranquilamente na televisão, com acintosa desfaçatez, por alguns parlamentares e até pelo presidente da Câmara dos Deputados.