A síndrome de Benjamin

Fico pensando nessa inversão natural, mas sarcástica, que a mãe natureza – às vezes tão desnaturada! – aprontou contra o ser humano. Digo sobre a consciência, com todo o seu discernimento, que o homem obtém ao longo de sua vida sobre as coisas que o rodeia – e às vezes o odeia – e que, infalivelmente, se apresenta na razão inversamente proporcional ao estado físico-emocional de sua estrutura biológica. Calma. Em outras palavras, é que tanto mais experiente o homem quanto mais próximo se encontra ele de sua extinção.

Aos 65, em pleno vigor de minhas funções intelectuais e já capaz de perdoar os meus devedores, e sabedor de que Deus, por isto mesmo, já perdoara as minhas ofensas, percebo, atônito, que não estão concordes com a minha filosofia de vida os famigerados e cada vez mais constantes resultados de exames médicos. Estes, na arquibancada de torcedores contra, prenunciam as últimas voltas desta minha corrida sobre a escorregadia pista do planeta.

Ora, meu Deus! Por que ligaste o motor desta máquina que criaste e que avança aproveitando-se de novas tecnologias para depois, gradualmente e segundo desculpas espiritualistas, retirar-lhe o combustível no auge de seu funcionamento? Por que razão, em nome de todas as razões, haverá sempre uma razão maior entre os teus céus e a Terra do que possamos nós – os mortais! – supor em nome de nossas razões tão fragilizadas? Então não fomos feitos à tua imagem e semelhança? Mas que semelhança é essa a ti que nos abandona em meio do caminho?

Um embusteiro foi Nietzsche ao tentar nos induzir ao erro de que a vez era do super-homem, quando, na verdade, mais feliz sempre fora o cão, essa criatura insensata que, vazio de ego e incapaz de ser poeta, é capaz de se entender com as estrelas ainda que não seja um super cão...