PRESIDENTE SERTANEJO
Às vezes fico pensando se eu seria tão feliz praticando outras profissões, que não fossem as de fotógrafa e professora, que exerço há mais de 30 anos. Digo isso por que se a primeira me serve como hobby e fruição, a segunda faz muito bem à minha alma, já que no desempenho dela eu me sinto útil à humanidade, uma vez que envido todos os meus esforços para que os novos professores conspirem pela ascensão social de seus futuros alunos.
Tenho feito isso com prazer, ética e determinação, mas o preço que pago diariamente não é barato, já que esse tipo de atitude contraria os que buscam apenas os diplomas, assim como todos os inconsequentes que com eles são coniventes. Combato-os no meu palco predileto: as salas de aula! Nelas, eu levo meus discentes a compararem fatos históricos, até concluírem que o principal papel da escola e dos professores é o de instrumentalizar os alunos com habilidades e competências, que lhes permitam ascender na pirâmide social, melhorando suas vidas e as dos seus descendentes.
Entre as disciplinas que leciono este semestre está a de Princípios Teóricos e Metodológicos da Língua Portuguesa, e um dos meus objetivos é o de que, ao término da disciplina, meus alunos sejam capazes de demonstrar que aprenderam a planejar e ministrar sequências didáticas interdisciplinares, considerando o que determinam a Didática e os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa para o 1º e 2º Ciclos dos Anos Iniciais.
Na primeira aula, apresentei-lhes o plano de ensino e para que eles se sentissem motivados a quererem aprender muito, falei-lhes sobre a enorme responsabilidade que têm o professor alfabetizador e aquele que planta as bases de todos os demais estudos, ou seja, o docente que ensina leitura e produção de textos a crianças do 1º ao 5º ano.
Para tal, escolhi falar sobre os pífios resultados capixabas no último Ideb (Índice de desenvolvimento da Educação Básica) e os do Enem.
Enquanto eu dialogava com a turma, uma aluna linda que já se submeteu a três cirurgias para aumentar as próteses mamárias de silicone, participava esporadicamente, e, simultaneamente, manuseava o seu celular. O fato não me incomodou, pois não percebi ali nenhum desrespeito intencional e o papo era mesmo informal. Em dado momento, abordamos o perfil ideal do educador e vimos que ele não pode ser alienado politicamente, já que o ato educacional é permeado pelas ideologias de quem o pratica.
“Queridas, vocês têm acompanhado os noticiários?”, perguntei-lhes, e uma meia dúzia de mãos, entre as 50 que havia na sala, se levantaram. Prossegui em minha investigação: “O que vocês sabem me dizer sobre Operação Lava-jato?”, e obtive como resposta um silêncio incomodante. “Vocês sabem que o País está passando por uma grave crise moral e econômica?” Silêncio!! “Vocês têm visto no Facebook o povo insuflando o impeachment da Dilma?” Uma voz me perguntou: “Professora, o que é “insuflando”? e outra: “O que é “impeachment”, Norma?”.
Após responder-lhes, perguntei-lhes se elas conseguiam deduzir a quem interessa, diretamente, a queda da Presidente, e obtive como resposta outro silêncio pesado. Perguntei-lhes se achavam que o Aécio Neves seria conduzido ao cargo de Chefe da Nação e muitos disseram que sim. Nesse momento, informei-lhes que isso não é possível, pois, por força da Lei, diante de um impeachment o futuro Presidente seria o atual vice. Aproveitei para perguntar-lhes o nome dele, e o silêncio como resposta foi o mais pesado de todos. Tentando ajudar, eu disse:
“O nome do nosso vice-presidente é Michel Te....” Não consegui concluir, pois a linda do silicone completou:... LÓ!! MICHEL TELÓ!!
A turma toda desabou no riso e eu idem! Fiquei imaginando o Michel Teló com a faixa presidencial sob a sua sanfoninha, tocando e cantando para um bando de gente canalha, que se encastela em todos os níveis do poder em nosso País: “Ah, se eu te pego! Ah, se eu te pego!”