Recebendo Visitas

Receber visitas é sempre o mesmo drama. A casa tem que estar arrumada e limpa. Comes e bebes impecáveis. Tudo em ordem para não passar vergonha. No meu primeiro ano de casamento recebi algumas visitas e comigo não foi diferente. Uma semana antes começou a faxina e arrumação; também houve a compra de coisas boas para comer, com direito a marca que a gente nunca compra porque é cara (e sem fazer cara feia no caixa - a pedido da esposa). Venhamos e convenhamos que a faxina por melhor que seja nunca ficará cem por cento, alguma coisa vai ficar de lado. É nessa hora o marido comenta com a esposa: ninguém vai ficar reparando nos cantos, nas maçanetas, na poeira do terceiro livro da prateleira.

O grande dia da visita chega. Não sei se por educação ou pela simplicidade da pessoa, tudo corre muito bem, tudo é agradável, a comida é boa, o sabor do suco agrada. Que maravilha! Todo o trabalho valeu a pena e todo real investido foi bom. Mas... se fosse diferente? uma visita exigente, quem sabe um pesadelo na noite anterior com direito a insônia e pensamentos mil. São tudo suposições, importante que a visita já veio, foi tudo muito bom obrigado.

Belo dia o telefone toca, um amigo das antigas quer fazer uma visita, sem titubear é confirmada e, o pior, sem avisar para a esposa do agendamento. Começa mais uma vez a arrumação, só que dessa vez não foi com o mesmo empenho da anterior (cansaço, correria) e a compra não foi tão caprichada assim, mas tudo bem, o visitante não vai ligar, ele é educado, quer dizer, ele tem que ser educado, afinal, não pode chegar na casa dos outros e ficar reclamando, onde já se viu!?

A campainha toca e tão logo atendo. Cumprimento o amigo do tempo da faculdade, mas logo sou alvejado com uma reclamação: Nunca vi tomada de campainha mais suja, e, por sinal, que toque mais ridículo, bom gosto passou longe! Fiquei sem palavras! Conforme o sujeito foi entrando (um cara desse não merece ter o nome citado) ia comentando o que via: maçaneta engordurada, teto com risco, rejunte do piso com uma pequena mancha de esmalte. Parecia vistoria da vigilância sanitária, pois a pessoa foi em todos os cômodos da minha casa sem poupar dos seus comentários: fronha do travesseiro um pouco amassada. Onde esse cara quer chegar? Resolvo servir algo para ele comer. Que arrependimento! Daí em diante foi mais bordoada. Marca de suco intermediária, nem a melhor nem a pior, a do meio, como pode? Não gosto desse sabor. Torradas de quinta categoria. Tudo isso é muito estranho! Será que estou recebendo a visita certa? Será que ele entrou na casa certa? A minha esposa tão logo chegou para me socorrer daquela visita infernal, só que não! Ela fez coro junto com ele da situação da casa. Quem mandou não confirmar a visita? Bem feito.

Semanas depois um amigo de faculdade me ligou perguntando quando poderia me visitar. Como assim? Não era você? Quem desmarcou? Sua esposa! Então quem veio? Minha esposa não queria falar, brincava que era o presidente da Associação dos Maridos Que Não Avisam A Esposa Que Haverá Visita. De qualquer forma ela jura de pé junto que não sabe quem era tal visita, mas confirma que desmarcou com meu amigo. Fica a dúvida. Quem veio? Só para me testar e fazer queimar minha língua de que visita não repara em nada? Talvez foi para o meu bem, de não fazer diferença na maneira de como receber uma visita, se é para limpar a casa que limpe bem, seja para uma ilustre visita seja para uma visita simples, e que a comida seja a melhor possível.

Tin dom! Está esperando alguma visita? Não! Nem eu. Visita inesperada!? Ah não, mais essa não!

25/02/15

Miguel Rodrigues
Enviado por Miguel Rodrigues em 25/02/2015
Código do texto: T5150238
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