O amor chegou da rua

O amor chegou da rua. Cruzou o aguaceiro inesperado. Em estado febril. Necessita de algo pirético. (Ácido acetilsalicílico). Espirra sobre o ladrilho movendo os cabelos soltos. Molhados. Da rua. Chove na planura, chove no mundo.Chove no varal, no poço, na calha. Gotas se partem no paralelepípedo brilhante aos passos do amor na chuva.

Pois chove. Chove nos quintais. Chove antes do adeus ponderoso e ágil do sol. O amor em estado febril bate na porta. O olhar carrega uma conjugação abstrata de espelho e luz. Misto de água limpa e fria. É assim: depois da chuva resiste a ternura molhada de musgo.

Rápido! Quer algo pirético. É do homem abraçar com a toalha enxuta.

amor veio de longe. Cruzou o parque. Tinha unido o coração aos seus passos miúdos. Ponho minhas mãos em seu rosto para aquecer o seu sorriso molhado. Sejamos nós o sol ausente, mistura de corpos a se aquecer onipresentes.

Estamos ouvindo a tempestade. Nos vidros toda imagem ganha um movimento diverso como piedade dos pássaros com capas de plumas. Com eles a tempestade oculta o canto e vento varre o mundo! Uniremos nossos corpos a espera da calma para amar em conforto porque o amor conforta tudo.

Ponhamos roupas de inverno. Felizes como crianças que encontram dentro de casa (fruto da imaginação), um pomar ao sol num quintal abandonado. A chuva compadecida cessará ao primeiro raio de luz e se unirá ao nosso abraço. Movesse o amor o seu poder sobre o caminho do inverno não haveria cortinas de sombras. Nada perturbaria a paz das almas acostumadas a conversa com o tempo. Sobrariam apenas os clarões da aurora. O amor como as nuvens, de si para si, são como o eco das vozes antigas e alegres ao avistar um dia claro. Não guardamos bem a memória das ariscas estrelas nessa cíclica ausência. Sequer adoramos sua existência, pois a torrente põe limite a expressão. É a água que começa a vadear os rios desconhecidos, percorrendo fontes, lagos antes inexistentes.

Quando o amor partir novamente, lívida de chuva, inquieta, correrá o mundo deslumbrado. Totalmente adocicada de felicidade suprema. Com o coração e o pensamento no mesmo passo. É quando então eu durmo. Começo a gerir novas imagens. Todas elas querem competir um sentido em meu confuso espaço. O sonho quer atrair fugidias sensações perdidas. Momento eterno engastado na quietude como a iluminação rápida de pirilampo no ar luminoso da alma agasalhada. A iluminação seca é deslumbrante. Desenha tantas formas na noite imperturbável! Quer nos ensinar: tudo se pulveriza... Topázios, diamantes, vaga-lumes. Subjuga protesto em humildade.

Não há como exaurir o amor conjugado na lição anterior. Nosso riso, nosso olhar, nossa palavra, nosso ato e até nosso desgosto nunca se exaure. Ficasse eu velho com amor sempre cantando morreria feliz ouvindo o canto.

Aonde vamos? Silêncio. Escute! Ouça o apelo de uma estrela. Veja como tem um modo claro de esquecer a luz do dia no firme firmamento. Ouça o mar atrás de um arco-íris dúbio numa concha vazia. No curso rápido a manhã dilata o horizonte. Novamente a árvore majestosa servirá de casa ao canto dos pássaros inocentes.

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