Texto para dias de domingo.
Hoje evitou o seu restaurante predileto dos últimos meses. Comida rápida, dessas que se escolhe o que quer e paga pelo peso. Sempre demorou um pouco mais à mesa: é habitual ouvir o cantor. Voz, violão e canções conhecidas que acha serem executadas sempre na mesma ordem. Até os pedidos dos clientes parecem iguais e foi um dos motivos para não ir.
O dia mais complicado da semana – não se sente bem devido às boas lembranças e que fazem mal. Aos domingos, parece sempre morrer para tentar renascer num dia melhor. Já faleceu por três dias e renasceu para morrer mais vezes e, aquele lugar tem aparência de sala fúnebre. Sempre paga por tomate, melancia, abacaxi, alface, cenoura, carne e mamão que carregam o gosto de última refeição, posta no enorme prato branco e consumida com talheres vagabundos.
Decidiu não sair para comer. Acordou, caminhou pelos cômodos da casa e voltou para o quarto. Levantou novamente, foi à cozinha e preparou um chá. Selecionou uma das suas estações de rádio favorita, mas se recusou a cantar. É prudente demais para ferir os ouvidos com a própria voz. Recebeu uma mensagem que falava de almoço em família. Recusou em resposta rápida dada com uma desculpa qualquer. Outra chegou e educadamente agradeceu.
Recebeu visita que trouxe algo separado com carinho. Cinco panquecas de carne banhadas com molho de tomate. Elas também fazem parte das suas boas lembranças que não gosta de ter. Tem as panquecas, tem a estação e tem outro domingo triste. Falta aquela pessoa que pediria para comer uma a mais e que reclamaria a falta de barbecue. Temperou com lágrimas, engoliu e escolheu Like This para morrer outra vez.
Alexandre Menezes